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Redescoberta: as irmãs Buarque encontram no Pole Dance novas versões de si

Texto de Gabriely Castelo

Reencontro. Diversão. Realização. Reinventar. Sentir. Movimento. Liberdade. Expressar. Acolhimento. Mulheres que dançam. Podemos ver essas palavras pintadas na parede do estúdio da Casa Ello assim que entramos. Para muitas pessoas o pole dance e o twerking, como toda a dança, é muito mais do que o ato de sensualizar e sim uma forma de se expressar.  

O pole tem empoderado mulheres por todo o mundo, elas procuram cada vez mais a atividade em busca do aumento da autoestima e também do condicionamento físico.

A atividade gera muita curiosidade e ainda é  muito estigmatizada, principalmente por quem pensa que a dança está ligada somente a sensualidade. Se você pensa isso, está totalmente enganado. Meninas que praticam a modalidade relatam o aumento da flexibilidade, melhora do sono, queima de calorias, melhora da autoestima, fortalecimento muscular e por último, mas não menos importante, o equilíbrio que é gerado pelos saltos e movimentos na barra.

Em Maceió, mais especificamente no bairro do Barro Duro, o estúdio de dança Casa Ello surgiu da paixão de duas irmãs pela dança, Gabriela e Nanna Buarque. Foi um projeto pandêmico, iniciado no começo de 2020, que tinha como objetivo falar sobre autoestima e acolhimento às mulheres. 

Gabriela tem 25 anos e é arquiteta por formação, mas foi no pole dance que encontrou sua paixão, hoje estuda educação física aperfeiçoando suas habilidades atléticas, enquanto Nanna, sua irmã caçula, de 23 anos é graduanda de Dança na UFAL.

“Eu sempre gostei muito de coisas acrobáticas, já admirava muito o pole dance, mas só por vídeo na internet, nunca me visualizei fazendo.” conta Gabriela.

A instrutora e co-fundadora da Casa Ello começou o pole dance 2 anos atrás, levada a outro estúdio por sua irmã, que era professora de twerking, estilo de dança concentrado nos quadris e agachamento. Nanna logo começou a praticar pole, o que despertou interesse de Gabriela.

“Uma curiosidade é que eu já tinha um pole em casa há cinco anos, eu tinha muita vontade de fazer, mas na época não existia nenhuma aula ou curso online, então ficou de enfeite por um tempo até começar a ser usado um ano depois que eu estava praticando, e aí eu comecei a praticar pole dance, foi amor à primeira vista, juntou a paixão que eu tinha pelo esporte com a que eu estava descobrindo pela dança, um processo que descobri depois do pole dance” complementa Gabriela.

Segundo a mesma, desde que começou a prática não conseguiu mais parar, começou a dar aulas e depois de um ano e meio de preparação, começou a ensinar, fazer mais cursos, buscar aprender cada vez mais, com um ano e meio de prática as meninas abriram o  próprio espaço.

Nanna explica que no meio da pandemia, as irmãs já estavam envolvidas na linguagem de trabalho corporal, desde a infância sempre fizeram tudo juntas, ginástica rítmica lado a lado, tudo aquilo que fizeram crescendo, foi juntas.

“Quando entrei para a dança, naturalmente a Gabriela veio também e a gente foi caminhando lado a lado, a galera sempre gostava quando postamos coisas juntas como irmãs, porque compartilhamos dessa paixão” afirma Nanna Buarque.

E por fim, em outubro de 2020, a Casa Ello ganhou um espaço físico.

O objetivo da Casa Ello é de construir um espaço de acolhimento para as mulheres, sendo um espaço para que elas possam além de praticar um exercício físico, se permitir testar coisas novas, poder tentar novas experiências.

“A gente mudou muito por conta da dança, o que a gente era durante nossa adolescência, a nossa autoestima mudou muito, a forma como a gente se enxergava mudou muito, consequentemente a forma como a gente reagia em relação aos outros, as coisas que a gente aceitava e o trabalho corporal virou essa chave pra gente, da gente entender qual o nosso lugar, entender o que a gente merece, se dar o direito que a gente merece” complementa.

Confrontando os obstáculos

Mesmo com o desafio físico, a modalidade vem conquistando e recrutando mulheres. Mas, por ser uma atividade que exige pouca roupa, muitas meninas ainda se sentem inseguras.

“Existe muita dúvida, principalmente se tem um tipo corporal necessário para fazer pole dance, se precisa ser magra, se precisa já ter força, se precisa ser uma pessoa flexível, na prática você não precisa de nada, só se permitir, vir e aprender. Trabalhamos muitas travas corporais, não é preciso usar tanta força assim e a força que você precisa vai adquirindo ao longo do tempo”, estabelece Gabriela.

Para praticar o pole dance, é necessário lembrar as condições, ou seja, para praticá-lo perfeitamente é preciso usar pouca roupa, pois a barra necessita de atrito com o corpo.

“No começo, o pole acaba sendo uma atividade desafiadora, porque a gente precisa usar pouca roupa pra fazer, se usar muita roupa vai escorregar na barra, então você é obrigada a estar se vendo no espelho. No começo, essa sensação é um pouco desafiadora, mas acaba se tornando libertadora, você acaba se acostumando com seu corpo, passa a gostar mais do seu corpo, admirar mais o seu corpo, porque você tá lá toda semana uma hora e meia semi nua se olhando no espelho junto de várias outras mulheres e dançando, descobrindo coisas que seu corpo é capaz de fazer coisas incríveis que você não imaginava, acaba sendo muito transformador por conta desse processo” conclui Gabriela.

Hillary Sampaio, aluna de pole dance no estúdio, conta que procurou a modalidade porque sempre achou exercícios normais e academia tediosos. “Na época que me interessei achei outro estúdio que ainda existia em Maceió e ficou, nunca mais parei” explica a aluna.

Uma das alunas, Bruna Moura, estudante de fisioterapia, conheceu Gabriela através de uma amiga em comum, enquanto a mesma praticava em outro estúdio, continuou acompanhando a pole dancer, sempre com vontade de iniciar, mas adiava por morar em Rio Largo.

“Eu ficava sempre adiando o início, mas não teve jeito, pensei “vou ter que me locomover de lá pra cá” e estou aqui na minha segunda aula” explica Bruna com os olhos apertados dando o sinal de um sorriso por baixo da máscara.

“Fisicamente, o pole puxa muito do físico, dá dor muscular no outro dia, você sente musculatura que nem sabia que existia, depois vem as marcas maravilhosas que o pole deixa, mas estou gostando muito” finaliza Bruna.

A atividade tem transformado a vida de muitas meninas e mulheres, inspirando-as cada vez a fazerem as pazes com o espelho no processo de aprendizado e acolhimento, uma das principais filosofias do estúdio.

“Muitas das meninas que chegam aqui, mesmo as que se acham muito bem resolvidas, mesmo que achem que tem uma autoconfiança muito bem construída, ainda trazem esse peso da vergonha (…) Quando elas chegam e encontram outras mulheres, que estão ali no mesmo lugar que elas,  que estão colocando elas pra cima, que estão vibrando com as conquistas delas, que ela também está vibrando com a conquista das amigas, se forma esse vínculo, que é uma grande parte do processo de ajudá-las a se permitir, fazê-las se sentirem confortáveis o suficiente, para por exemplo, na primeira aula vir de shortinho e nas próximas ver que está tudo bem vir de calcinha, vai ficando mais tranquila, mais a vontade e a transformação vai acontecendo assim” finaliza a co-fundadora Nanna Buarque.

 

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