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O ritmo e a melodia de Flora Uchoa

Texto de Lícia Souto

Envolvendo-se às antiguidades, peças e melancolia do ambiente, ela transmutou a fundação Pierre Challita para uma outra atmosfera, onde conta a história de ‘Saturno’. A produção ilustra um retorno pessoal da artista Flora Uchoa, um reencontro com a capital alagoana após 13 anos morando longe, e também um reencontro consigo mesma. Nessa entrevista, ela conta que compôs a canção quando estava para completar 30 anos –  o que Saturno demora em média (na terra) para dar uma volta ao redor do sol – então as ideias se alinharam.

– Quem é Flora Uchoa enquanto mulher e artista?

Flora – Como já fazia Caetano: Sou eu!

– O que você busca através da música?

Flora – Cumprir o meu papel social. A música para mim é um meio de comunicação, educação, transformação e cura no sentido mais amplo dessas palavras. Não existe um mundo sem música, sem arte. Eu tenho grande apreço pela palavra seja ela falada ou escrita e fazer uma palavra ganhar melodia e ritmo é extremamente sedutor. A música é uma magia de acessar pessoas, disseminar ideias e tocar sentimentos. Trabalhar com isso me realiza completamente.

– Como é o seu processo de construção de um álbum?

Flora – Eu poderia me considerar mais uma letrista do que qualquer outra coisa, pelo fato de que a escrita parece ser onde tenho mais intimidade. Eu não tenho grandes habilidades com instrumentos, trabalho muito com a intuição e vou desenhando uma linha melódica, mas geralmente começo pelas letras. Quando penso em construir um álbum eu tenho muitas imagens já na cabeça, vou desenvolvendo como quem constrói um filme, uma peça de teatro, ou até mesmo um quadro.

As vezes busco uma narrativa que me guia e as vezes vou seguindo de forma mais livre e de repente começo a achar sentido, mas quando chego pra gravar, produzir de fato, já sei muito o que eu quero, já mastiguei muito minhas referências e começo a desenvolver com os músicos que trabalham comigo.

– Todos os seus clipes tem uma assinatura muito particular e criativa, em “Saturno” não foi diferente, o clipe é visualmente muito impactante. De onde veio a inspiração para essa gravação?

Flora – Como eu comentei na pergunta anterior, quando estou compondo eu tenho uma tendência a construir imagens e acho que isso reflete bastante no meu trabalho, já ouvi comentários de que as pessoas acham minhas músicas muito visuais e eu concordo, então quando surge a oportunidade de gravar um clipe, as imagens, a temperatura, a textura já pairavam pela minha cabeça muitos meses antes.

Eu tenho uma grande obsessão pela imagem desde muito nova. A fotografia foi uma das primeiras mídias que eu experimentei quando criança, cheguei a cursar cinema na minha primeira faculdade afim de fazer direção de fotografia, depois acabei partindo para o teatro e enfim cheguei na música. Tive a sorte de vir de uma família mergulhada na pintura, avós, tio-avô, pai, mãe e grande parte da minha vida foi observado eles pintando em casa, no ateliê, cavaletes no jardim… acabei me tornando uma apaixonada pela pintura embora tenha arriscado muito pouco nela.

Há um tempo estava querendo revisitar o acervo da família. Estava morando longe por um período de quase 13 anos. Nesse retorno a Maceió devido à situação pandêmica acabei entrando em contato com esse passado familiar, estava saudosa de tudo. O clipe “Saturno” conta um pouco deste retorno, não só a minha cidade mas a mim mesma. Saturno demora em média 30 anos (na terra) para dar uma volta ao redor do sol e eu estava para completar esses 30 anos quando compus essa canção, foi de fato o meu primeiro retorno de Saturno (risos). A ideia de usar o acervo do meu tio avô Pierre ilustrava esse imaginário que eu vinha carregando a respeito da pintura, fora isso ele tem um considerável acervo de arte sacra que deu o tom dramático na atmosfera da canção que não por acaso foi feita apenas com pianos e voz. Chamei Henrique Oliveira, um grande amigo, diretor e fotógrafo para fazer esse filme e virou isso que vocês conhecem.

– O que te move e inspira?

O que me move e me inspira são pessoas, seja isso negativo ou positivo.

– Artisticamente falando, quais são os seus próximos passos? O que você idealiza para a sua carreira?

Estou em gravação do meu próximo álbum desde janeiro, mas ainda há um longo caminho até finalizar por completo. Ainda quero fazer a turnê de “A Emocionante Fraqueza dos Fortes” antes do próximo lançamento. Estou gravando algumas parcerias também, mas tenho muitos planos para a minha carreira com essa retomada do setor musical pós pandemia.

 

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