Texto de Gabriely Castelo
Em A Festa do Bode, Mario Vargas Llosa mescla fatos reais com a ficção de forma magistral. O autor retrata a ditadura violenta e sanguinária de Rafael Leonidas Trujillo na República Dominicana, que chegou ao poder em agosto de 1930 e só saiu 1961, numa armadilha orquestrada por revolucionários.
O livro narra três grandes histórias, o primeiro plot, por assim dizer, acompanha o último dia do ditador Trujillo, já no final de sua vida aos 70 anos de idade, esse núcleo na minha opinião é um dos mais engraçados, pois Mario Vargas Llosa consegue zombar de uma figura que só se preocupava com o seu poder e no fim acaba não tendo poder nem do próprio corpo, como é narrado no livro os problemas na esfíncter do grande “Chefe” da República Dominicana.
O segundo plot narra a história dos revolucionários que foram responsáveis por tramar a emboscada que acabou com a vida de Trujillo e a ditadura na República Dominicana, nessa núcleo é onde ficamos sabendo das história mais pavorosas e horrendas da grande ditadura, um dos exemplos, que também se transformou em um grande símbolo contra a violência de gênero foi o assassinato das Irmãs Mirabal.
Patria, Minerva e Maria Tereza Mirabal, também conhecidas como “Las Mariposas”, eram integrantes do movimento revolucionário 14 de Junio e lutavam contra o regime do bode, Rafael Trujillo.
“Se me matam, levantarei meus braços e serei mais forte” – Minerva disse essas palavras em resposta àqueles que a advertiram sobre sua oposição, que iria matá-la. A frase se tornou icônica, em uma emboscada, as irmãs foram assassinadas após terem visitado seus maridos, que estavam presos. No caminho de volta para casa, as três irmãs e o motorista Rufino de La Cruz foram interceptados por um grupo de homens a serviço do ditador.
Eles foram enforcados e espancados para que quando o veículo fosse jogado do precipício parecesse um acidente de carro. O crime, de tão horrendo que foi, é um dos principais motivos para que até os simpatizantes terem começado a rechaçar o regimede Trujillo.
O terceiro, porém não menos importante núcleo, narra a história de Urania Cabral, uma mulher de 49 anos, que retorna a São Domingo, capital da República Dominicana, 35 anos após deixar o lugar para encontrar seu pai doente, de quem sente muito rancor. O problema é: seu pai foi um homem importante na época Trujillo e deixou que o ditador a abusasse sexualmente.
Urania, em minha opinião, representa todas as mulheres violentadas, assassinadas e estupradas durante o regime do Bode, todas aquelas que foram silenciadas e nunca podemos ouvir suas versões do que foi sobreviver ao pavoroso ditador, nessa parte, o escritor nos faz ouvir as mágoas de uma sobrevivente.
Antes da leitura, eu não tinha nenhuma familiaridade com a história da ditadura da República Dominicana, mas é uma narrativa maravilhosa de ser conhecida, saber como as ditaduras sanguinárias afetaram a América Latina é de grande importância para entendermos melhor historicamente e culturalmente nosso continente.
Mario Vargas Llosa pesquisa minuciosamente e é mais cru e menos tendencioso até que documentos oficiais da época, segundo alguns leitores. A obra cruza entre a documentação e o ficcional sem fugir da surpreendente literatura detalhista do peruano.
PS: Como grande fã de revoluções, a minha parte preferida é a que tramam a morte do ditador.
Ótimo livro para aqueles que adoram história, principalmente história latino-americana.