
Cada grupo trabalha intensamente para ajustar figurinos, coreografias e narrativas que representam meses de dedicação. Os bois vêm de diferentes bairros da capital, carregando histórias, ritmos e personagens que traduzem a alma de Maceió.
Mais do que uma competição, o festival é uma celebração da resistência cultural, resultado do esforço coletivo de mestres, brincantes e famílias inteiras que mantêm viva essa manifestação, um patrimônio imaterial que atravessa gerações e continua pulsando no coração do povo maceioense.
Ensaios e temas: Autismo, Edécio Lopes e Mundo junino
Durante os ensaios, o Bumba Meu Boi Escorpião, do bairro do Poço, apresentou parte do seu espetáculo, que neste ano trará um tema social: o autismo. O balé é assinado por Luiz Eduardo, que destaca o desafio e a importância da proposta:
“É um grande desafio, não só para a coreografia, mas para toda a produção do boi, inclusive para quem criou a música. Quando recebi a proposta, fiquei gratificado. Acredito que precisamos abordar temas sociais não apenas na política, mas também em festivais como o boi, o coco de roda e as quadrilhas. Está sendo uma satisfação enorme. O Bumba Meu Boi Escorpião será o primeiro a se apresentar na noite de sábado”, contou.
A expectativa, segundo ele, é que o grupo consiga levar uma mensagem de conscientização sobre o autismo para a sociedade alagoana.
Já o Bumba Meu Boi Cobra Negra preparou uma homenagem ao radialista Edécio Lopes. Segundo Ezequiel Araújo, diretor do grupo, a ideia partiu de uma das integrantes, Ariela Silva, a Lalá:
“A sugestão de homenagear Edécio Lopes veio de Lalá. Tínhamos outras opções para 2025, mas o nome dele ganhou força e foi escolhido por unanimidade pela diretoria”, explicou.
Para Araújo, a escolha é uma forma de reconhecer a contribuição do comunicador à cultura popular:
“Edécio foi um pernambucano que se tornou alagoano de coração. Por meio do rádio, das composições e da defesa das tradições, ele fortaleceu nossa identidade cultural. O frevo, o carnaval de rua e o Bumba Meu Boi se cruzam nessa homenagem”
Os preparativos do Cobra Negra também movimentam o grupo:
“Estamos ensaiando quase todos os dias com a bateria e o balé. Os figurinos e cenários estão sendo confeccionados, e a ornamentação do boi será uma das mais bonitas já vistas no festival. Queremos emocionar o público trazendo a história de Edécio para a Arena”, afirmou o diretor.
Economia criativa e tradição
Da zona sul da cidade, Dafny Silva, conhecida como Noor Brasil, está à frente do balé do Boi Trovão, que promete misturar o tradicional e o estilizado, com elementos do mundo junino.
“Teremos muitas coreografias estilizadas, sem deixar de lado o tradicional. A equipe é um pouco reduzida, mas muito dedicada”, contou.
Outro nome importante da produção cultural é Kleverton Gardony, o Kevinho, carnavalesco e figurinista com mais de 18 anos de experiência. Ele destaca o impacto econômico dos festivais de cultura popular:
“Cresci vendo e aprendendo com essa cultura, e hoje sou um fazedor dela. Esses festivais, de boi, coco de roda, quadrilha, movimentam não só a economia, mas toda uma cadeia de pessoas. Há quem borde, corte, cole… tudo isso faz girar a economia criativa. A procura cresce a cada ano, e as pessoas fazem de tudo para realizar seus sonhos. A gente não trabalha com fantasias, e sim com sonhos”, resume.



