O foco da câmera em Icaro Drasan

Nesta segunda da fotografia, a Revista Alagoana entrevistou Icaro Drasan, artista que vê a imagem com uma forma de expressão artística.

Por Maryana Carvalho sob supervisão Anna Sales

Trabalhar com fotografia é ter um olhar atento para tudo que está ao redor, momentos que passam e congelam na câmera. A história desta vez, é de Ícaro Drasan, colorista, editor e assessor de comunicação, que aposentou a fotografia como trabalho e, hoje, a vê como uma forma de expressão artística, às vezes para si mesmo e às vezes para outras pessoas. 

Quando era mais novo, sua mãe comprou um câmera semiprofissional. Foto: Icaro Drasan

Foi em um desses momentos congelados no tempo que Icaro começou a registrar as histórias que via. Teve seu primeiro contato com uma câmera quando ainda era novo: sua mãe levou para casa uma semiprofissional compacta, com um “zoom gigante” e algumas funções manuais. Como acontece na maioria das primeiras experiências das pessoas, Icaro achou aquilo estranho. Então, ele passou a pesquisar como fotografar no modo manual.

“Comecei a ler um monte de coisa que era grego para mim: abertura, ISO, velocidade, o foco. Era tanta coisa que fiquei perdido. Embora a câmera permitisse mexer em algumas coisas, não era algo intuitivo, pois esse não era realmente o objetivo dela. Lembro de não ter conseguido sair muito do canto, mas isso me deixou muito intrigado”, explica Drasan. 

Mas sua paixão pela fotografia surgiu depois, com seu primeiro trabalho. Seus amigos têm uma banda chamada The High Club e, na época, precisavam de alguém para tirar fotos e montar vídeos. Ele se ofereceu para ajudar, mesmo sem muita experiência. Com a câmera em mãos, descobriu como usar o foco e o desfoque para destacar elementos na imagem e aprendeu a direcionar o olhar do espectador. Conta que o interesse pela fotografia começou ali, não pela arte em si, mas pelas possibilidades que a câmera oferecia e pela responsabilidade de entregar um bom trabalho aos amigos.

“Eu costumo dizer que as pessoas começam a se apaixonar pela fotografia quando descobrem o foco manual. É quando se consegue desfocar o fundo. Sai daquela fotografia tradicional de celular, em que está tudo em foco, para uma em que se consegue deixar algo em primeiro plano e o segundo plano com desfoque. Isso é uma das coisas que mais desperta a atenção. A pessoa pensa: ‘Nossa, como essa foto está diferente, o fundo está desfocado’”, conta. 

A fotografia como expressão artística 

Icaro é assessor de comunicação. Foto: Icaro Drasan

Apesar da paixão, trabalhar com fotografia não é o foco de Ícaro no momento. Ele passou um tempo sem registrar imagens, pois transformar a arte em trabalho acabou minando sua criatividade. A pressão por resultados e dinheiro fez a vontade desaparecer, e por um período ele decidiu deixar a câmera de lado.

Com o tempo, porém, a arte falou mais alto e Icaro voltou a fotografar, não para agradar outras pessoas, mas a si mesmo, como uma forma de reconectar-se com aquilo que ama. Essa escolha é perceptível em seu feed no Instagram: ele quase não publica o que registra, preferindo guardar os momentos que têm significado pessoal.

Hoje, prefere trabalhar com algo mais movimentado: o audiovisual. Ele trabalha como assessor de comunicação na Prefeitura de Olho d’Água das Flores. 

“Às vezes olho a galeria do Lightroom e vejo quantas fotos salvas eu nunca mostrei, mas fico tranquilo, porque tive que passar pelo processo de tirar essa pressão de ter que mostrar ou tornar isso rentável”, explica Icaro.  

Estilo de fotografia 

Quando questionado sobre seu estilo fotográfico, Icaro Drasan admite que é difícil defini-lo. Sua abordagem é experimental e abrangente, passeando desde a fotografia documental até composições que ele mesmo descreve como “natureza morta”: objetos simples, flores ou animais.

O que importa aqui, não é o quê, mas como ele vê. A câmera é apenas uma ferramenta que transmite seu olhar. Para Icaro, a fotografia não se define: ela é um meio de expressão.

“Eu penso na imagem que quero produzir e decido fotografar algo quando percebo que consigo reproduzir a ideia que tenho em mente. No fim das contas, o ato de fazer a fotografia – apertar o botão, compor, ajustar – pode ser algo muito técnico. Com o tempo e a experiência, aprendi a reconhecer o que funciona ou não de acordo com o que quero transmitir”, conta o fotógrafo.

Imagem da flor fotografada em 2015
Foto: Icaro Drasan

Quando se faz o que ama, surge um momento decisivo que muda a percepção sobre a própria carreira. Para ele, esse momento veio com uma foto: uma flor amarela com detalhes em vermelho e verde, cuja iluminação acentuou as texturas e as cores. A foto o marcou, não pela composição ou pelo momento em si, mas por algo que poucos pensam, que vai além da imagem: a pós-produção. Foi ali que ele viu a imagem não apenas como era, mas o que ela podia se tornar com sua edição.

A mesma cena se repetiu recentemente. Icaro viu um “matinho” sob a incidência de luz e pensou como poderia retratar aquela imagem que estava sob seu olhar. Essa capacidade de enxergar o resultado final antes mesmo de levantar a câmera é o que define seu processo; só fotografa se o equipamento e a cena forem capazes de traduzir sua ideia. 

“A fotografia não termina no clique; ela ainda passa por uma etapa de pós-produção. Eu gosto de levar minhas fotos para essa etapa, de mexer nelas, explorar possibilidades. E desde esse período, até hoje, quando olho para algo que quero fotografar, não vejo apenas o objeto em si”.

Objetivos para o futuro 

Aquele menino confuso, que um dia pegou a primeira câmera semiprofissional com a mãe sem saber mexer ou compor, ficou no passado. Hoje, a fotografia se tornou a paixão de Ícaro e sua principal expressão artística. Seu objetivo futuro é garantir que a arte não seja novamente dominada por fatores externos, seja a pressão por criação de conteúdo ou a obrigação de ganhar dinheiro.

Isso não significa que seu trabalho ficará para sempre em sua galeria pessoal. A ideia de um livro, um zine ou uma exposição ainda existe, mas de forma orgânica, sem metas ou prazos. A única condição é que “faça sentido”. O plano para o futuro, afinal, é simples: “Eu só não quero deixar que essa chama se apague. Eu notei que isso é importante demais para mim”, conclui Icaro.

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