Inspirado no mito do andrógino de Platão, escritor alagoano reflete sobre as múltiplas formas de amor e a busca humana por completude.
Por Luís Laércio Gerônimo
Há histórias antigas que atravessam os séculos porque falam do que há de mais essencial entre os seres humanos. Uma dessas histórias vem do filósofo Platão, no diálogo O Banquete, onde o filósofo conta o mito do andrógino — uma das mais belas metáforas sobre o amor humano.
Segundo o mito, no princípio, os seres humanos eram completos. Eram redondos, com quatro braços, quatro pernas e duas faces voltadas em direções opostas. Esses seres existiam em três formas: masculina, feminina e andrógina — esta última, reunia o masculino e o feminino num mesmo corpo. Nessa completude os seres eram tão fortes e autossuficientes, que desafiaram os deuses. Para os enfraquecer, Zeus decidiu dividi-los ao meio, separando cada unidade em duas metades. Desde então, diz Platão, vivemos à procura da nossa outra parte, desejando a fusão, a totalidade, o reencontro.
Por trás da mitologia, há uma verdade profunda: o amor é a incessante busca pela completude, por algo que nos devolve à unidade perdida. Mas, essa busca assume muitas formas — e nenhuma delas é inferior à outra. O amor entre homem e mulher, entre amigos, entre pais e filhos, entre pessoas do mesmo sexo, ou mesmo o amor espiritual que transcende o corpo — todos são tentativas humanas de reconectar aquilo que foi dividido.
O mito do andrógino, ensina-nos que não há uma única maneira de amar, porque o amor não é um molde, é um movimento. Cada encontro verdadeiro é um retorno simbólico ao nosso estado original: é o momento em que, por um instante, deixamos de ser metades e nos tornamos inteiros.
Num tempo em que tanto se fala de diferença, o amor continua a ser a linguagem que nos recorda que somos todos feitos do mesmo desejo de união e sentido. E talvez amar seja isso: “reconhecer no outro, o reflexo da parte de nós que ainda procura o seu lugar no mundo”.
Sobre o autor
Luís Laércio Gerônimo, é natural de Pão de Açúcar-AL, graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe. Possui pós-graduação na área das Ciências Humanas, em Filosofia, História do Brasil, Teologia e Gestão Pública. É mestrando em Educação pela Universidade Autónoma de Assunção, no Paraguai.
