Coluna de Jorge Vieira
Tomar a Fotografia como uma forma de expressão é desafiador. O poder que ela tem na construção de uma narrativa visual nem sempre é compreendido, e levado a efeito. E pensar a Fotografia, e realizá-la, numa linguagem poética, é um desafio ainda maior.
Henri Cartier-Bresson (1908-2004), possivelmente o mais importante fotógrafo de todos os tempos, dizia que a excelência em fotografia seria conseguir que uma única imagem contasse uma história, conceito que toma vigor quando se contextualiza a obra de Bresson, pioneiro do gênero “fotografia de rua” e mestre da fotografia espontânea, cujo documentarismo é reconhecido e respeitado pelo poder de síntese de suas imagens, dentre outras.
Miguel Rio Branco (1946), fotógrafo brasileiro com respeitável trajetória, por sua vez, embora corroborando o dizer de Bresson, diz que “a fotografia sozinha funciona e o ideal é você conseguir fazer fotografias que sozinhas se segurem puramente, mas eu sempre achei muito mais divertido construir com essas imagens algo que fosse mais como um poema visual. Ao invés de você ter uma palavra você tem uma frase.”
Transitando pelo que diz Rio Branco, o ajuntamento de palavras não produz, necessariamente, uma frase. E quando o faz, a frase pode não se conduzir pela poética. Fazer essa analogia com as imagens me parece de fina precisão, no que volto ao pensamento inicial, do quão é desafiador expressar-se pela fotografia, e com ela poetizar.
Com a disposição de encarar esse desafio, em 2018 foi criada (Fragma Imagem), no ambiente fotográfico alagoano, a oficina FOTOgrafandoPOESIA. Já em sua terceira edição, iniciada em setembro de 2020 e com conclusão em março de 2021, esta num formato não presencial, a oficina reúne poetas alagoanos, ou radicados em Alagoas, e fotógrafos de cinco estados (AL, MG, PA, PR e RS)*. O objetivo é provocar o desenvolvimento da poética da imagem, para o que os fotógrafos inscritos interagem com os textos dos poetas convidados, num processo de descolamento dos poemas e de construção de sua própria poética, em imagens.
Voltando à analogia de Rio Branco, juntar imagens não resulta, necessariamente, num ensaio fotográfico, e quando o faz, o ensaio pode não se conduzir pela poética. E “o Homem somente pode viver poeticamente” (Heidegger, 1889-1976), pelo que expandir a fotografia em suas possibilidades de expressão, e o fazer com poesia, é de fato muito mais divertido, e um ar puro a oxigenar a alma irrequieta do artista da imagem.