De voluntária em eventos do MST à Marcha das Margaridas, fotógrafa retrata movimentos populares com olhar atento às pautas sociais e identitárias.
Texto de Esmeralda Donato com supervisão de Anna Sales
O fotojornalismo vai além de registrar momentos. Ele conta histórias, denuncia injustiças e eterniza lutas. Mais do que técnica, exige sensibilidade, coragem e compromisso com a realidade. Em tempos de desinformação e apagamento de vozes, a imagem capturada com propósito pode se tornar um poderoso instrumento político e social.
É com esse olhar que Ana Carolina constrói sua trajetória. Formada em Direito, ela encontrou na fotografia, especialmente no registro de manifestações e movimentos sociais, uma forma de expressar sua identidade, suas lutas e seu engajamento político. Mulher, negra e LGBT, Carol une vivência, sensibilidade e técnica para documentar o que muitas vezes passa despercebido: a força das ruas e de quem nelas resiste.
Em entrevista à Revista Alagoana, Carol compartilha suas inspirações, desafios e sonhos no campo da fotografia. Seu trabalho vai além da estética; é, sobretudo, uma ferramenta de luta. Confira:
R.A.: Quem é Ana Carolina e qual é a trajetória dela na fotografia?
Carol: A fotografia sempre esteve presente na minha vida por influência da minha família. Eu cresci cercada por álbuns e objetos antigos, como aqueles binoclinhos de foto, e isso me marcou muito. No ensino médio, já tinha interesse por fotografia e cinema, mas segui outro caminho e acabei me formando em Direito.
Curiosamente, foi durante a graduação que me aproximei mais da fotografia. Na pandemia, comprei minha própria câmera e passei a consumir muito conteúdo sobre o tema. Me apaixonei pelo fotojornalismo, especialmente influenciada por fotógrafas como Gabriela Biló. Hoje, tenho um forte desejo de seguir nessa área, unindo fotografia e política, principalmente em registros de atos e movimentos sociais que dialogam com minha vivência enquanto mulher, negra e LGBT.
R.A.: Quais experiências ou momentos foram mais marcantes na sua caminhada até agora?
Carol: A primeira experiência marcante foi quando fui fotógrafa voluntária na feira do MST. Uma amiga me chamou, e fomos fotografar juntas. Foi incrível. Outro momento especial foi a Marcha das Margaridas, em Brasília. É uma marcha linda, gigantesca, com muitos anos de história.
A edição que participei foi logo após o governo Bolsonaro, período em que as margaridas não foram recebidas. Naquele ano, com o retorno do governo Lula, elas foram recebidas pelo presidente, pela ministra da Igualdade Racial, pela ministra das Mulheres… Foi tudo muito simbólico e emocionante. Fotografar aquilo foi inesquecível pra mim.
R.A.: O que te inspira e motiva no que você faz hoje?
Carol: Acho que o que me inspira é poder divulgar a minha visão de mundo e as minhas lutas através da fotografia. Gosto de mostrar pessoas que estão lutando por direitos humanos, pelos direitos da comunidade LGBTQIA+, pelas causas sociais.
Me motiva saber que ainda existem pessoas que acreditam em um mundo melhor e que eu posso colaborar com essa transformação, registrando essas lutas, dando visibilidade a elas. A fotografia, pra mim, é uma ferramenta de denúncia, de memória, de resistência.
R.A.: Quais desafios você tem enfrentado no seu campo de atuação, no cotidiano?
Carol: Acho que o principal desafio é conseguir espaço no mercado, principalmente quando se trata de fotografar movimentos sociais. Ainda é difícil encontrar oportunidades que não sejam voluntárias. O mercado está saturado, e ocupar um espaço como fotógrafa nessas pautas específicas é complicado.
Eu faço muito trabalho voluntário, que é algo que amo e que me forma muito, mas a dificuldade está mesmo em transformar isso em uma profissão sustentável.
R.A.: E quais são seus planos e sonhos para o futuro? Tem algo que você ainda deseja realizar especificamente na sua atuação como fotógrafa?
Carol: Meu sonho atual é me formar em Jornalismo e seguir na área de fotojornalismo. Quero documentar marchas, atos, eventos de movimentos sociais. Quem sabe ser fotógrafa política, em Brasília, trabalhando em algum jornal ou revista.
É isso que me move hoje: poder contar histórias reais com as minhas imagens.