Artista fala sobre o novo álbum, mudanças estéticas e as experiências internacionais dois anos depois de sua primeira reportagem conosco
Por Maryana Carvalho com supervisão de Bertrand Morais

Antonio da Rosa retorna ao site da Revista Alagoana em um momento decisivo da própria caminhada artística. Dois anos depois de afirmar que ser “emocionado” era o centro de sua criação, ele volta com um álbum que carrega exatamente esse nome – como se, nesse intervalo, tivesse transformado intenção em forma. Entre novas composições, mudanças estéticas, uma aproximação mais concreta com sua brasilidade e a experiência de levar Alagoas para palcos na França, o artista revisita antigas falas e revela como elas ganharam corpo. Nesta entrevista, Antonio fala sobre identidade, processos e descobertas que vieram “na maré” desse novo ciclo, onde emoção deixa de ser ideia e se torna prática, presença e direção.
Se em 2023 ele previa que a quantidade abriria caminho para a canção “fantástica”, hoje Antonio observa sua própria produção com mais calma, entendendo que disciplina e intuição caminham juntas. Entre a mudança de nome, a liberdade de cantar sem violão no palco e a certeza de que a música precisa existir no presente, e não apenas como plano futuro, o artista compartilha como essas etapas moldaram seu novo disco e seu olhar para a carreira.
R.A: Antonio, você já esteve na Revista Alagoana em 2023. Na época, você dizia ser alguém emocionado e que isso era o ponto central da sua fase artística. Hoje, depois de tantas mudanças musicais e o lançamento de um álbum inteiro, esse conceito mudou ou continua com você?
Antonio da Rosa: O conceito continua, principalmente com o lançamento do disco, que justamente leva o nome de “Emocionado”. Na época da entrevista eu estava inclusive já gravando as músicas que compõem esse trabalho, e por isso tinha claro essa ideia de que ser alguém emocionado seria meu ponto central em termos estéticos e narrativos.
R.A: Você também mudou de nome, antes era “Yo Soy Toño”. Olhando para o passado, o que você sente que mudou além do nome? Não só imagem artística, mas na forma que você passou a compor, cantar e se posicionar?
Antonio da Rosa: Acho que a forma como me posiciono mudou bastante. No palco passei a cantar sem violão, o que me deu mais liberdade de interpretação. Em termos estéticos pude me associar mais a uma brasilidade, latinidade que antes ficava muito mais na intenção do que na prática. E certamente me possibilitou outros caminhos de composição, acho que também uns mais divertidos. As novas músicas são, ao meu ver, fruto de um processo de diversão com a composição. Eu me senti feliz compondo.
R.A: Você é carioca, mas cresceu em Maceió e tem levado o nome de Alagoas para o mundo afora. Como sua vivência brasileira, sobretudo nordestina, ganha forma em suas letras e em seu disco?
Antonio da Rosa: Acho que tem muito de uma relação com o mar. Eu morei minha infância e adolescência toda no litoral norte de Maceió, entre Garça Torta, Riacho Doce, Ipioca e Praia da Sereia. Sinto que essa vida, também de verões de sítio, dos coqueirais, do deslumbramento com paisagens idílicas e até certa melancolia, formaram muito da minha poética.
R.A: Você comentou que a música acende uma chama, mas também traz medo, especialmente o medo de se entregar a algo tão intenso sem garantia de estabilidade. Hoje, como você lida com esse equilíbrio emocional entre impulso criativo e vida prática?
Antonio da Rosa: Ainda estou buscando melhor esse equilíbrio. Mas acho que pra mim sempre foi difícil por desejar coisas grandes: fazer uma tour com muitas datas, entrar no circuito dos festivais, ter reconhecimento nacional. E continuo desejando tudo isso, mas entendendo que nada precisa acontecer rápido. A vida artística é imprevisível e cara demais se você quer esses resultados mais rápidos. E ao mesmo tempo, à medida que o tempo passa, também tenho outros desejos fora do mundo da música. Então busco um equilíbrio que permita realizar tudo que for importante, lidar com aquilo que não vai ser possível, ter paciência com as coisas que demorar e aproveitar as oportunidades que aparecem. Mas como falei antes, ainda tentando interiorizar melhor tudo isso!
R.A: Em 2023, você comentou que “quantidade é qualidade, em algum momento a música fantástica aparece”. Hoje, depois de ter gravado seu primeiro álbum, como você enxerga essa disciplina criativa, ainda continua ou mudou? Por conseguinte a essa pergunta, como você compõe suas músicas, existe alguma forma que você se sente mais confortável?
Antonio da Rosa: Acho que compor bastante te faz entender melhor como fazer uma canção fantástica, me valendo dos meus termos. Mas também acredito que essa música surja de uma forma sublimada, tendo razão em si, e não unicamente como resultado de diversas tentativas.
Sobre minha forma de composição, sinto que faço um pouco assim, pegando o violão e buscando caminhos, sem querer achar muito alguma coisa. Ultimamente tenho tentado também compor a partir de ideias pré-concebidas, então varia. O principal pra mim no final é me tornar o maior fã daquela música quando ela tá pronta, é assim que sinto que fiz algo legal.
R.A: Recentemente, você esteve na França ao lado de Robson Cavalcante, se apresentando em uma série de shows pelos Alpes Franceses. Você pode falar como foi essa experiência? Teve algum momento – no palco ou fora dele – que te marcou e te fez perceber algo novo sobre você como artista?

Antonio da Rosa: Foi uma experiência muito preciosa. Fizemos 8 shows em 7 cidades, tocando sempre na sala de estar das pessoas. Isso foi uma lição de humildade. Tocar pra mini plateias de 30, 40 pessoas (nosso maior público foram 80 pessoas), na casa dessas pessoas, para seus amigos e vizinhos, em cidades que ficavam a 30 minutos uma da outra. Foram shows sem pompa, mas com muita elegância e sofisticação.
E senti que viver também essa imersão, de acordar, ensaiar, montar equipamento, viajar, tocar e repetir tudo durante mais ou menos 20 dias foi fenomenal. Foi a primeira vez que me senti completamente músico na minha vida, pensando na música como momento presente e menos dentro das grandes coisas que deveria me estruturar para viabilizar. Já tava acontecendo ali.
R.A: No relato do seu primeiro show da nova fase, você destacou a proximidade com o público, o choro, os abraços. Agora, com experiências internacionais, o que mais te surpreendeu na relação afetiva do público com a sua música fora do Brasil?
Antonio da Rosa: Acho que os públicos variam de show pra show, independente do país. Certamente que no Brasil há uma cultura mais efusiva, está mais presente em nossa forma de se comportar. Mas acredito que pudemos ver todo tipo de emoções surgirem nos shows pela França também.
R.A: E olhando para os próximos meses, entre França e novos shows fora de Alagoas: qual é o próximo passo de Antonio da Rosa?
Antonio da Rosa: Estou buscando viabilizar shows em outras cidades pelo Brasil. Também vou fazer o lançamento do Emocionado em Paris. Minha intenção agora é mostrar o disco para o máximo de pessoas e fazer minha música furar a bolha local e chegar em mais lugares pelo Brasil.