Da identidade à moda contemporânea: o filé de Maylda

Guardiã de uma tradição que atravessa gerações, a artesã e integrante do Inbordal conta como o bordado mudou sua vida, fortaleceu sua comunidade e conquistou visibilidade nacional e internacional através de iniciativas como o Renda-se, que acontecerá nesta quinta e sexta-feira (18 e 19). 

A Revista Alagoana entrevistou a artesã que refletiu sobre a importância do projeto que une tradição e inovação, abrindo novos caminhos através do filé. 

 

 

A história de Maylda com o bordado filé começou cedo, ainda na infância. “Foi através da minha avó, quando eu tinha uns 7 anos de idade”, relembra a artesã, hoje com 60 anos. A partir desse primeiro contato, o ofício se tornou não apenas uma atividade manual, mas uma marca de identidade cultural e pessoal.

Ela recorda com carinho as primeiras experiências ao lado da avó e de uma vizinha, quando o filé se resumia às cores branca e bege e se transformava em pequenos paninhos de bandeja. “Eu me sentia muito feliz por saber fazer aquilo ainda muito pequena, mas ao mesmo tempo não tínhamos perspectiva, porque não tinha quem comprasse”, conta. O incentivo, na época, vinha de uma senhora que morava no Pontal e todo mês comprava algumas peças. “Eu ficava maravilhada porque eu trabalhava e ao final do mês tinha alguém que vinha comprar, mas com o tempo veio uma decepção: a mulher comprava quase de graça para revender.” Apesar da frustração, ela relembra esse momento como fundamental para que Maylda e outras artesãs não desistissem do ofício naquela época.

Divulgação/Instagram

Atualmente, ela atua por meio do Inbordal – Instituto do Bordado Filé de Alagoas, associação que funciona como salvaguarda dessa tradição no estado. O grupo tem investido em estratégias para valorizar o trabalho das rendeiras e ampliar sua presença no mercado. Entre as ações, estão a busca pela Indicação Geográfica da Região das Lagoas Mundaú e Manguaba e a proposta da Rota Turística do Bordado Filé, iniciativas que unem marketing territorial e incremento dos negócios locais. “Queremos solidificar o ofício das filezeiras, valorizar nossa cultura técnica e dar às comunidades maior capacidade para manejar esse conhecimento específico”, explica.

Para além da renda, o filé transformou a vida de Maylda em aspectos profundos. “O filé me proporciona conhecimento e reconhecimento, além do prazer de passar essa cultura para as próximas gerações”, afirma.

Divulgação/Instragam

Esse papel de guardiã da tradição se fortaleceu com a participação no Projeto Renda-se, do qual ela faz parte desde a primeira edição, há cinco anos.

A artesã destaca que o contato com estudantes e estilistas foi determinante para expandir horizontes. “Trabalhar com estudantes e estilistas expandiu e elevou meu trabalho em várias áreas, e da mesma forma a associação também. Criamos conexões, novas ideias e mais oportunidades”, comenta. Esse processo exige dedicação minuciosa: desde a escolha da linha até os detalhes finais de cada peça, tudo é preparado com atenção e carinho. “Esperamos que tudo dê certo e, como sempre, brilhe lindamente em cada coleção”, completa, sobre a expectativa para a quinta edição do evento que ocorrerá nesta quinta e sexta-feira (18 e 19).

Segundo Maylda, o Renda-se também aproximou tradição e inovação, inserindo o bordado em diálogos contemporâneos da moda. “Essa aproximação nos fez sair do trabalho tradicional para trabalhar com grandes designers, além de levar para a moda contemporânea elementos clássicos do bordado”, diz. O resultado foi o surgimento de novas oportunidades: encomendas e produções para nomes importantes do setor, o que fortaleceu ainda mais a relevância do trabalho das artesãs alagoanas.

Ver o bordado filé romper fronteiras e alcançar reconhecimento nacional e internacional é motivo de orgulho. Para Maylda, cada conquista reforça o valor de um saber que, de geração em geração, segue vivo e pulsante.

 

 

 

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