Texto de Bertrand Morais
A existência de um Festival de Cinema em determinada localidade excede seus benefícios para com a comunidade e com a própria nação de origem, uma vez que, o audiovisual resgata a identidade do País em histórias ficcionais ou documentais. Também é de conhecimento público, principalmente aos produtores audiovisuais, os desafios enfrentados para que projetos de tal dimensão realmente saiam do papel.
No estado de Alagoas, o mais recente foi o Festival de Cinema de Arapiraca, realizado na e com patrocínio da prefeitura do município de mesmo nome, no agreste alagoano, em maio deste ano, integrando suas mostras competitivas com produções locais, assertivamente. Desta forma, pôde-se sentir o poder narrativo e cinematográfico, apesar dos poucos recursos, presentes no interior de Alagoas.
Uma dessas produções oriundas da cidade de Arapiraca, denominada ‘O Retirante’, de direção de Tarcísio Ferreira, foi exibida ao público do Festival no último dia das mostras competitivas, com sala de cinema lotada. Seu enredo e elementos arapiraquenses, tais como geográfico, trilha sonora, script, entre outros, parece ter conquistado àqueles que puderam assisti-lo ao ponto de dar-lhe o prêmio do Júri Popular do Festival.
O filme conta a história de Jonhson Cavalcante, um dos numerosos casos de nordestinos que vão a São Paulo, em busca de melhores oportunidades. No caso dele, no ramo da moda. Mas, é em Arapiraca, sua terra natal, onde ele verdadeiramente se reconhece em seu mundo pessoal e profissional. Sabemos que desfechos como o dele ainda são pouco vistos e comentados, mas de suma importância serem narrados.
Ainda no Festival, o prêmio de melhor direção e melhor filme da Mostra Nordeste foi para outra produção alagoana, de Paulo Accioly e Renata Baracho, que conta o drama de moradores e comerciantes afetados pelas rachaduras causadas por exploração de sal-gema da Braskem, e como o projeto, que transformou-se em documentário, denominado ‘A gente foi feliz aqui’ tem pedido ação dos responsáveis através de intervenções artísticas.
Trazer o exemplo de duas produções alagoanas feitas por alagoanos é apenas um recorte da potência audiovisual dentro do estado de Alagoas. Parte de iniciativas como a do NAVI – Núcleo do Audiovisual de Arapiraca, para citar como exemplo, e de produtores, realizadores audiovisuais, assistentes e classe artística em geral que trabalham, arduamente, com muito suor e pouco reconhecimento para resgatar a identidade nacional e, por vezes, nós mesmos – como no período em quarentena – aquela em constante ameaça seja através de cortes ou da política de balcão e esta por uma frequente inércia ensurdecedora.
Para que iniciativas de democratização do cinema brasileiro permaneçam ativas, em quaisquer partes do Brasil, é preciso uma vigilância e demanda constante por políticas públicas que respeitem critérios como o da proporcionalidade. Se você é de Alagoas, nesta segunda-feira, 20, o Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano – FSAL está convocando a comunidade para uma reunião extraordinária, mediante os últimos acontecimentos. Se informe e participe!
Apenas os filmes do eixo Rio-São Paulo importam? Pensemos!