Larissa: “Gosto de mostrar a vida acontecendo com beleza, não para romantizar, mas para revelar sentido”

Usando a câmera do celular, a fotógrafa transforma o cotidiano em imagens cheias de afeto

Vinda de uma realidade periférica e sem acesso à formação artística tradicional, a fotógrafa Larissa Santos encontrou na câmera do celular uma maneira de expressar o que via e sentia. Aos poucos, foi descobrindo que seu olhar não dependia de equipamentos caros, mas de escuta, afeto e presença. Hoje, ela produz ensaios, explora o estilo lifestyle e carrega consigo a potência de fazer muito com o que tem de melhor a oferecer.

Em entrevista à Revista Alagoana, ela compartilha os desafios e encantos de fotografar com o celular, reflete sobre o impacto das redes sociais no processo criativo e conta como o fato de viver em Alagoas molda seu olhar para o mundo com simplicidade, verdade e beleza. Confira:

R.A.: O que te levou a escolher o celular como sua principal (e única) ferramenta de trabalho na fotografia?

Larissa: Sempre gostei de fotografia, mas não tive acesso a câmeras ou formação artística. Cresci numa família periférica, e a relação com a arte parecia distante. Na adolescência, comecei a registrar paisagens, amigos, momentos simples e as pessoas me incentivaram a investir nisso.

Na vida adulta, mesmo sem uma câmera profissional, percebi que conseguia resultados expressivos com o celular. Claro que há limitações: o foco, a luz, o controle da imagem são mais restritos, mas aprendi a contornar isso com os recursos disponíveis.

Hoje, mesmo ainda sonhando com a estética que desejo alcançar, decidi começar com o que tenho. Gosto muito do estilo lifestyle, que mostra a vida em movimento, e sigo buscando meios de me aproximar disso, mesmo com os desafios técnicos do mobile.

R.A.: Já passou por situações em que o fato de fotografar com o celular foi subestimado? Como você lida com isso?

Larissa: Na verdade, o mais comum é o contrário: as pessoas se surpreendem com o resultado. Recentemente, um rapaz me mandou mensagem dizendo que ficou encantado com meu trabalho e queria até comprar uma câmera para tentar fazer o que eu faço com o celular. O que mais ouço são elogios sobre a qualidade das imagens e meu olhar sensível, mesmo usando uma ferramenta simples.

Quem mais me subestima, às vezes, sou eu mesma. Me pego pensando nas limitações e no que ainda não consigo fazer. Mas, em vez de parar, estudo, sigo outras fotógrafas mobile, busco dicas, testo acessórios que podem me ajudar. Tento lidar com essa auto sabotagem transformando em movimento.

R.A.: Como é o processo de criar imagens tão íntimas num mundo tão voltado para a performance estética e o algoritmo?

Larissa: Esse dilema apareceu quando decidi me profissionalizar. Hoje, tudo passa pelo Instagram, e eu nunca tive uma relação natural com a plataforma. Você não quer ser criadora de conteúdo, mas precisa de um perfil ativo para mostrar o que faz.

O desafio maior não é fotografar, mas expor meu trabalho sem perder minha essência. Compartilhar algo verdadeiro num ambiente moldado pelo algoritmo é o que mais me desafia.

R.A.: O que é a fotografia pessoal para você?

Larissa: A fotografia, para mim, é parar o tempo. É tornar visível o que se sente, não só o que se vê. Cada imagem carrega uma intenção: o que quero que o outro sinta ao ver isso?

Gosto de mostrar a vida acontecendo com beleza, não para romantizar, mas para revelar sentido. É sobre estar viva, sentir, perceber. E isso é fascinante.

R.A.: De que forma o fato de estar em Alagoas molda o seu olhar fotográfico?

Larissa: Morar em Alagoas me ensinou a valorizar o que está ao redor. Às vezes viajamos e tudo parece deslumbrante: um bar rústico, uma rua de paralelepípedo. Mas temos isso aqui também.

Maceió não é só a orla: tem o centro pesqueiro, o Pontal, o artesanato, os barquinhos no pôr do sol. Começar a fotografar aqui me fez olhar com mais atenção e perceber a beleza que há no cotidiano da cidade.

R.A.: Se sua fotografia fosse uma frase ou um poema, qual seria?

Larissa: “Existir já é bonito.” Simples assim. Minha fotografia nasce desse olhar: de encontrar beleza na vida como ela é, com movimento, com verdade, com limites também. Cada imagem minha tenta dizer isso de algum jeito.

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