Carregados de emoção, cineastas do brasil e do mundo ganham destaque na segunda edição do evento
Por Lu Melo
O cinema move pessoas, histórias, sensações e emoções. Cada enredo passado em uma tela carrega um peso, seja ele o valor do capital em filmes de super-heroi ou vidas que foram carregadas por um peso que ainda está aqui. Em Alagoas, o audiovisual é utilizado para enaltecer a terra, contar as vivências de um povo no segundo menor estado do país e, por outro lado, denunciar desastres e preconceitos que são produzidos nos territórios alagoanos.
Neste ano, a segunda edição da Mostra Mulheres+ no Cinema trouxe como tema “Desapropriando corpos dissidentes: a potência do cinema para além da narrativa heterossexual”, que aborda, essencialmente, produções audiovisuais que possuem enredos LGBTQIAPN+ e celebram linguagens que resistem ao silenciamento de uma indústria que apaga pessoas da comunidade.
A Revista Alagoana acompanhou os personagens, longas e curtas que contribuíram na realização de uma das maiores mostras de cinema do estado.
La Rosa Mossoró
Uma das figuras mais emblemáticas da noite alternativa de Maceió, Rosa Mossoró, mulher que resistiu às barreiras em prol da comunidade LGBTQIAPN+ em tempos sombrios da sociedade alagoana, foi uma das homenageadas da mostra em 2025.
Criada entre os bairros do Jaraguá e Poço, quando jovem, Rosa Mossoró já possuía investimentos de bares na região e, segundo Rosa em entrevistas, já resistia às mazelas do preconceito. Em 2009, Rosa fundou o bar que se tornaria o Espaço Cultural: La Rosa Mossoró. O local, localizado no bairro do Jaraguá, possui diversas artes presenteadas por artistas plásticos. Rosa também foi a personagem principal do documentário A Rosa (2012), dirigido por Filipe Matzembacher.
Longas e curtas que marcaram a mostra
Histórias comoventes, momentos de diversão e atos de luta reverberaram as telas da mostra. Durante os três dias de programação, longas, curtas e clipes foram importantes para a proposta dos dias de evento, muitos deles contavam narrativas para além das heterossexuais, desde a luta de pessoas trans em busca de direitos até clipe musical sobre amor próprio e empoderamento feminino. Vejam a seguir alguns destaques da Mostra Mulheres+ no Cinema:
Sobre Nós
Uma conversa entre duas mulheres mergulha em um rio de profundidades e complexidades sobre relacionamento, estresse e pós-término. A direção de Marina Maux conta com paisagens urbanas que divergem entre o retrô e o moderno.
Tudo Que Importa
Três famílias de pessoas trans têm suas histórias contadas e contam os processos de acolhimento dos pais e celebração de suas identidades. O documentário é emocionante e aborda a vivência trans em diferentes aspectos e olhares.
Em sua exibição na mostra, o público se emocionou em cada cena passada. Sendo vencedor de uma das categorias do evento.
Cuidado Com o Mundo
No clipe de Cuidado Com o Mundo, Virgínia Tavares conta sua própria história: uma mulher que saiu de União dos Palmares para trilhar sua trajetória. A artista transborda carisma, aconchego e renovação de laços familiares no audiovisual dirigido pela mesma.
“Cuidado com o Mundo é uma música que fala da menina do interior. Ela tem uma essência familiar, principalmente das mulheres da vida dela. Quer crescer, continuar a sua vida, e eu acho que esse primeiro videoclipe teve essa homenagem a essa essência, porque conecta com cada pessoa que ouve, e principalmente agora com o audiovisual, com cada pessoa também que consegue prestigiar e assistir,” destaca a artista.
Alma do deserto
Em Alma do Deserto, nos é contada a história de Georgina, uma mulher trans de etnia Wayúu que vivencia dificuldades do preconceito na sociedade com contextos culturais complexos para garantir seus direitos de identidade de gênero.
A diretora do longa, Mônica Taboada Tapia, realizou uma exibição especial do filme no primeiro dia do evento. Além disso, um bate-papo foi feito após o encerramento do longa.
Karina Buhr: o Retorno à Maceió após 30 anos
Karina Buhr retornou à capital de Alagoas para seu primeiro show solo da carreira. A apresentação contagiou o público presente, em que Buhr demonstrou sua habilidade de multi-instrumentação, passando por sucessos de sua discografia. Sua última apresentação em Maceió foi há trinta anos.
Além da apresentação musical, a artista participou da palestra “Trilha Sonora: Processos sonoros”, que, ao lado de Fernanda Guimaraes, Telma César e Izabela Costa, discutiram sobre como o som ressalta e ajuda nas produções audiovisuais na transmissão dos sentimentos.
Nascida na Bahia, Karina se mudou para Recife ainda jovem. Na década de 1990, a cantora foi integrante e percussionista dos grupos de maracatu Piaba de Ouro e Estrela Brilhante de Recife. Em meio a cena do mangue da época, a compositora criou a banda local Comadre Fulozinha, composta apenas por mulheres, lançando três álbuns de estúdio e, depois, entrando em carreira solo.
Sua discografia conta com quatro álbuns de estúdio e, atualmente, Karina está atrelada a projetos audiovisuais, integrando a trilha sonora como Maria e o Cangaço (2025) e Chabadabadá (2024). Sua arte vai além do âmbito sonoro, em 2015 lançou o livro Despedaçando Rimas, que mistura prosas e versos em um amálgama de crônicas, poesias e música. Na atuação, Buhr participou do filme Meu Nome é Bagdá (2020), da TV Brasil.
Em entrevista à Revista Alagoana, Buhr contou que está produzindo seu próximo álbum de estúdio, previsto para ser lançado no final deste ano.
“Eu tô terminando de gravar um disco novo, gravei muita coisa nesse tempo e falta um pouco que é muito, né? Mas minha ideia é lançar ainda este ano. E o meu desejo é lançá-lo em 2025, eu só não vou dizer de certeza que eu vou lançar porque eu só acredito vendo, mas eu quero esse ano ainda,” diz a cantora.
A Mostra Mulheres+ no Cinema não apenas reverbera grandes lançamentos quanto a temática proposta, mas propôs uma experiência única para a população alagoana; trazendo para além de exibições de produções, uma mensagem bela, forte e resiliente ao estado de Alagoas: corpos dissidentes existem, resistem e persistem.