Texto de Anna Sales
Um prédio amarelo, com uma arquitetura diferente das construções da região, uma cúpula de frente para o mar verde da praia da Avenida. É nesse cenário que está localizado o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore. Mas nem sempre o local foi utilizado para isso. O prédio pertencia à Família Machado, influente por ser dona de uma fábrica de tecidos em Fernão Velho. Mas os tempos mudaram, a fábrica faliu e a família perdeu a casa, que foi leiloada para a Universidade Federal de Alagoas. O prédio então passou a ser a residência Universitária de mulheres.
Mas como virou o Museu? Théo Brandão era médico pediatra por formação, mas sempre amou e viveu a cultura popular. Estudou e levou as manifestações populares para dentro do meio acadêmico. De tanto se dedicar, estava com um acervo tão grande, que decidiu ir ao reitor da UFAL da época, Nabuco Lopes, e expressou seu desejo de doar à Universidade as peças que possuía. O pedido foi atendido. O começo foi bem diferente do que é hoje. Em 1975, com apenas com uma sala e arrumado de maneira amadora, o médico e folclorista Théo Brandão fundou o Museu, que foi instalado no Campus Tamandaré da UFAL, no bairro do Pontal da Barra. Só em 1977 que foi transferido para a atual sede, o antigo palacete da família Machado, na Praia da Avenida.
Théo Brandão faleceu em 1981, mas seus alunos deram continuidade ao seu legado. No começo da década de 90, o prédio entrou em deterioração. 10 anos se passaram, as peças ficaram em uma pequena sala no Espaço Cultural da UFAL, até que surgiu uma luz no fim do túnel para a volta do Museu. Para comemorar os 500 anos do Brasil, a Caixa Econômica Federal se dispôs a restaurar quatro prédios no Brasil inteiro. Carmen Lúcia Dantas, Museóloga e amiga de Théo Brandão, recebeu um convite do reitor da UFAL, à época Rogério Pinheiro, para coordenar o projeto de restauro do Museu, que foi aprovado. Outro projeto foi feito, dessa vez de instalação, que recebeu o apoio da Petrobras. Com os dois apoios, o museu se tornou o que é hoje.
18 anos depois
O imponente prédio continua chamando atenção. O que tem dentro dele? Se perguntam alagoanos e turistas. Guerreiro, carnaval, criações de artistas, a fé, a culinária. 18 anos depois, as salas possuem pouca ou quase nenhuma alteração. Ao chegar no prédio, um guerreiro de ferro ao pé da escada recebe os visitantes de espada em punho, como uma saudação. Alguns lances de escada depois, se chega na parte das salas. “Brava gente alagoana” é a primeira sala que os visitantes conhecem. Com fotografias de Celso Brandão e objetos pessoais de Théo Brandão, diversas pessoas são retratadas nas manifestações populares de Alagoas.
Ao lado esquerdo, o filé, o bordado. Chegamos à sala “O fazer alagoano”. Peças de barro, filé e fotografias podem ser vistas. Uma parte da sala é o “sabor alagoano”, dedicada apenas à tapioca, com diversas panelas expostas e o mais interessante: a receita original da tapioca está exposta nas prateleiras, frase por frase. A fé move o povo. No Museu, isso não poderia ser deixado de lado. Uma sala expõe os ex-votos, peças de madeira que simbolizam um agradecimento aos santos pela parte do corpo que foi curada. O sincretismo religioso é um marco brasileiro. E a Sala Fé expressa bem isso. Padre Cícero ao lado de Oxum, São Jorge ao lado do Preto Velho. A sala é democrática e tem espaço para todas as manifestações. O curioso é ver que pessoas deixam algumas oferendas, como cigarros para parar de fumar e moedas para obter dinheiro.
A alegria também é uma característica do alagoanos. A sala “festejar alagoano” mostra bem isso. Com estandartes de carnaval, bois e a famosa “mamãe”, a sala chama a atenção com seu colorido e beleza. Uma parte da sala é dedicada apenas ao Guerreiro, folguedo genuinamente alagoano. Chapéus com espelhos e fitas coloridas estão expostos. Na paredes, músicas famosas das danças do guerreiro. “O que há de novo?”. Esta é uma sala que mostra peças de alguns artistas que são alagoanos e outros não, como obras de Véio, artista popular sergipano. A novidade é uma majestosa peça de Sil da Capela, que está no meio da sala e mostra as brincadeiras do povo.
Mas o que continua atraindo tanta gente? Segundo Victor Sarmento, diretor do Museu, o esforço da comunicação e a adaptação ao mundo digital é um atrativo. O agendamento de grupos agora pode ser feito diretamente pelo site. Além disso, Victor relata que quando reabriu a visitação aos finais de semana, aumentou o número de visitantes, por ser o único museu em Maceió que faz isso. Mas não é só isso. O Museu também tem uma parte que é dedicada exclusivamente à exposições temporárias. O Diretor conta que essa é uma maneira de atrair o público. “Estamos com as mesmas salas desde 2002. As exposições temporárias chamam o público de volta. A da Sil foi um sucesso, tivemos mais de quinhentas pessoas na abertura. Estamos trabalhando em exposições que tragam impacto ao público.”
A comunicação também é algo de extrema importância. Desde 2010, o museu tem uma equipe de assessoria de comunicação que se dedica exclusivamente à divulgar as ações do museu e manter contato com a mídia. Na era digital, não ficaram para trás. O Instagram possui mais de seis mil seguidores, a página do Facebook tem dez mil curtidas. Interação, reconhecimento do público, engajamento. Quem vive de passado é Museu, mas bem que Théo Brandão se adaptou à nova era.
VISITE
O Museu fica aberto à visitação de terça à sexta de 9 às 17h, sábados e domingos das 12 às 17h. Grupos com mais de dez pessoas podem agendar pelo site ou ligar para o número 3214-1714.