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NÃO É UM FENÔMENO GEOLÓGICO, GRITA A FOTOGRAFIA

Coluna de Jorge Vieira

Em 03 de março de 2018 foi sentido um tremor de terra em Maceió, com mais intensidade no bairro do Pinheiro. Era o sinal de que a extração de sal-gema por mais de quatro décadas, pela mineradora Braskem, estava chegando às suas consequências mais trágicas. Depois de inúmeras pesquisas, a Ciência confirmou que de fato as minas escavadas no subsolo de Maceió estavam fazendo o chão ceder em áreas de cinco bairros. Não havia conhecimento técnico nos quadros da mineradora que avaliasse o risco, ou a probabilidade, de isso ocorrer um dia, bem como nos órgãos a que o acompanhamento e fiscalização couberam nesses longos anos?

Assim, sinaliza inconsistente nomear o fato como “fenômeno geológico”, como busca convencer a Braskem em suas mídias, colocando-se como benfeitora e não como responsável por esse que é avaliado o maior desastre socioambiental urbano da história do Brasil. Hoje se contabiliza cerca de 55 mil pessoas afetadas – moradoras dos bairros onde o solo afunda, onde as rachaduras instabilizam as edificações -, que tiveram que abandonar seus lares.

A Fotografia esteve, e está presente acompanhando e documentando essa tragédia humana, no que registro dois projetos que produziram, e ainda produzem, farto material imagético para informação e reflexão quanto à história que está sendo escrita na vida dos atingidos pelas rachaduras. O projeto “Pinheiro – bairro de vidas rachadas” e o projeto “Ruptura”. O primeiro, realizado entre novembro de 2018 e março de 2019, pelos fotógrafos Arthur Celso, João Facchinetti e Jorge Vieira, resultou em exposições instaladas no Centro de Maceió, e em um minidoc. Já o “Ruptura”, formado por 12 fotógrafos/as alagoanos/as, iniciou em setembro de 2020 e ainda segue realizando suas ações, a última delas a intervenção urbana “Finados Bairros”, quando foram instalados nas areias da praia da Pajuçara, dia 02.11.21 – dia de finados – varais com 800 lenços com imagens impressas retratando cenários da devastação provocada pela mineração. Os dois projetos tiveram extratos presentes no longa “A Braskem passou por aqui”, do cineasta Carlos Pronzato, lançado recentemente.

A Fotografia, assim, ainda que na dimensão de documento, lança seu olhar para além das fissuras físicas e/ou geológicas, revela e enfatiza a abrangência humana desse desastre socioambiental, e avessa os sugestivos benefícios e explicações da mineradora que escavou em aparente descaso por mais de quarenta anos sob as vidas de maceioenses.

Com o vigor de quem se solidariza com os milhares de moradores afetados com o afundamento do solo, esses/as fotógrafos/as das Alagoas fazem suas câmeras gritarem: “Não é um fenômeno geológico!”

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