O Reinado de Rás Gonguila: Homenagem da Beija-Flor à capital alagoana

Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis ocupará a segunda posição no desfile do domingo de Carnaval, dia 10. Reconhecida como uma das principais agremiações do Rio de Janeiro, esta escola terá como tema central da sua apresentação a cidade de Maceió, marcando a primeira vez que a capital alagoana será homenageada no Sambódromo da Sapucaí.

Com um total de 14 títulos no Carnaval carioca, a escola de cores azul e branca escolheu como enredo “Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. Mas qual é a história por trás do personagem que será resgatada durante o desfile?

A Origem Rás Gonguila, eternizado como o “rei dos carnavais” em Maceió, teve sua história iniciada por volta do início do século passado, provavelmente em 1905. Pouco se sabe sobre seus primeiros anos de vida ou sobre seus pais; a única informação confirmada é que ele era analfabeto, fato que não impediu sua notoriedade.

Os registros mais antigos sobre Rás Gonguila remontam à década de 1930, quando este engraxate fundou o Clube Carnavalesco Cavaleiros dos Montes, uma agremiação que marcou época na capital alagoana.

Rás Gonguila e o Bloco Carnavalesco Cavaleiro dos Montes

Em 12 de novembro de 1933, o jornal Diário de Pernambuco documentou as atividades carnavalescas do ano seguinte, mencionando: “O Clube Carnavalesco Cavaleiros dos Montes iniciou ontem, em sua sede social em Ponta Grossa, os ensaios de marchas para abrilhantar os festejos de Momo do próximo ano, sob a direção dos populares foliões Batista, José, Lanchas, Gonguila e Benedito”.

Segundo informações do portal da prefeitura de Maceió, o jovem Benedito dos Santos, ao ouvir relatos de seus pais sobre nobres que realizavam festas nos altos dos quilombos, adotou “Rás” como uma referência a uma possível ascendência nobre da Etiópia.

Rás teria se inspirado no título nobiliárquico ou dignitário do Rei da Abissínia, na África, que estava em destaque na época, tomando-o para si para ser reconhecido, conforme descrito pelo historiador José Maria Tenório Rocha.

Existe também a possibilidade de uma conexão ancestral com nobres africanos que teriam passado pela República dos Palmares, fugindo de ataques de “paulistas” e mantendo viva a linhagem real, posteriormente herdada por Gonguila.

“A beira-mar nasci um rei / E o senhor das ruas deu o meu caminho / Eu acreditei / Herdeiro da dinastia e das lutas de Zumbi / De Palmares as palmeiras e marés / Da cultura e bravura dos tupis e caetés”, assim cantará a Beija-Flor na avenida.

O Início no Carnaval Como engraxate, Gonguila sustentava-se financeiramente trabalhando com sua cadeira posicionada nas proximidades do Café do Cupertino, no Ponto Central de Maceió. Esse posicionamento estratégico o colocou em contato com uma clientela variada e influente, composta por políticos, empresários, intelectuais, artistas e até mesmo desempregados.

Vestindo um boné e uma túnica adornada com botões dourados, Rás também fazia uso de seu tradicional clarim para saudar os foliões, que se apresentavam ricamente fantasiados, em meio à animação, confetes, serpentinas e lança-perfumes, como registrado no site História de Alagoas.

Registros da época indicam que Gonguila não organizava diretamente festas carnavalescas. Por exemplo, o Jornal de Alagoas de 7 de setembro de 1945 anunciava uma “festa íntima ao som de uma formidável orquestra” no Clube Carnavalesco Cavaleiros dos Montes, demonstrando que estas iniciativas não eram promovidas por ele.

A trajetória de Rás Gonguila chegou ao fim em 21 de dezembro de 1968, quando sofreu um ataque cardíaco fulminante enquanto estava na Rua do Comércio, no Centro de Maceió. Com 63 anos de idade, este ícone do carnaval alagoano deixou cinco filhos e foi sepultado no Cemitério de São José, no Trapiche da Barra.

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