Texto de Bertrand Morais
Patrícia Magalhães é uma jovem de 19 anos, graduanda em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas, que apesar da pouca idade, tem uma clara consciência social, como mulher preta na sociedade alagoana, por vezes explicitada com postagens de figuras ou reflexões geradas através de movimentos negros em suas redes sociais. É também detentora de vocações, dentre as quais, a de compor verbos com a alma, como ela mesma expõe em sua bio do Instagram.
São com essas características que a definem que ela recentemente disponibilizou o livro de poesias titulado “Você nem se dá conta das coisas que lê & nem eu, das coisas que escrevo”. Em tempos de pandemia, ela encontrou uma forma de se expandir ao mesmo tempo em que permite aos outros sentir-se. Confira nossa entrevista com Patrícia Magalhães:
Gostaríamos de saber, quem é a Patrícia que escreve poemas?
Uma mulher que deseja se conhecer através de sua própria arte, e por ela compor sentimentos no coração dos outros.
Já com duas produções poéticas produzidas, percebi que a mais recente foi disponibilizada em período de isolamento social. Essa nova realidade vivenciada por nós tem alguma relação com a publicação de suas obras?
Patrícia – Meu primeiro livro “Contos de Naíse” foi publicado no fim de 2019 e sempre tive o intuito de publicar de forma fácil e gratuita, mas já havia uma necessidade dentro de mim de fazer outro. Daí, com o isolamento social obtive mais disponibilidade e animação para escrever o segundo com o resultado atual.
Na mais recente obra intitulada “você nem se dá conta das coisas que lê & nem eu das coisas que escrevo” o cacto, símbolo nordestino tão marcante, está onipresente. Qual a ideia que você quis transmitir dele aos poemas?
Patrícia – O símbolo do cacto neste livro vai muito além de significar somente o lugar de onde venho, o nordeste, mas significa também como diz o primeiro poema do livro que “somos como eles, cheio de espinhos, que nos interrompem e nos protegem das fases ruins da vida, mas também como eles temos flores lindas, que mostra o amor e o cuidado por nós e pelo mundo”. Acho que meu próprio poema pôde responder a esta pergunta.
A sua escolha de tornar suas duas obras acessíveis a todos e todas, têm alguma relação com como você enxerga o propósito dos poemas na vida de quem os lê?
Patrícia – Sim, é exatamente isso. Poema para mim tem a ver com afeto, sentimentalismo e cuidado. Desta forma, eu quero transbordar através das palavras tudo que poemas significam, e quem sabe com isso, poder plantar uma semente de autoconhecimento e mudança em alguém.
Certa frase andou circulando nas redes sociais que diz assim: “A arte anda salvando toda a população neste período de quarentena, mas quem salva os artistas?”. Qual sua opinião sobre essa reflexão?
Patrícia – Concordo com essa reflexão. A arte vem salvando as pessoas durante o isolamento social, inclusive a mim. Como a minha arte vem me salvando, então a meu ver, quem salva os artistas são a sua própria arte seguida da valorização de quem a aprecia.
E qual a mensagem que você deixa para uma sociedade, em especial a alagoana, que enfrenta tantos problemas atuais e outros já recorrentes, tais como o novo normal causado pelo coronavírus, racismo, machismo, entre outros assuntos?
Patrícia – Nesse tempo precisamos de confiança e perseverança. Eu, como mulher preta travo lutas todos os dias, e essa luta que vêm se instalando na sociedade é a mais dura de todas, porque se torna ainda mais difícil quando a “guerra” está sendo travada primeiro dentro das nossas próprias casas e corpos.
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