RESENHA LITERÁRIA: As Mil e Uma Noites – Livro 1 (ramo sírio)

Pintura de 1880 do alemão Ferdinand Keeler (1842-1922) mostra Sherazade contando histórias para o sultão Xariar

A história se inicia com o rei Xariar. Depois de ser traído por sua esposa, ele decide casar-se com mulheres de seu reino todos os dias. Mas a cada noite, manda matá-las ao amanhecer, para evitar que seja traído novamente. 

No primeiro volume da obra, somos apresentados à figura emblemática de Sherazade, a esposa do rei Xariar, uma mulher inteligentíssima, que decide acabar com o terror do reino ao casar-se com o rei. Na noite de núpcias, ela decide contar histórias tão boas durante a noite, que consegue adiar a sua própria morte a cada amanhecer. 

Sherazade, com sua inteligência, desafia esse destino cruel ao encantar o rei com narrativas intrigantes e cheias de reviravoltas todas as noites. 

Algumas histórias prendem muito, outras, em compensação, são enfadonhas. Algumas são muito engraçadas, outras bem tristes.

Esse é um dos aspectos mais fascinantes de As Mil e Uma Noites, a obra se compõe de uma multiplicidade de narrativas que variam imensamente em tom e estilo. Enquanto algumas histórias são cativantes e provocam risos, outras tocam a melancolia e o drama de maneira profunda. 

Essa diversidade é um dos grandes encantos do livro, que nunca deixa de surpreender com novos contos que parecem transportar o leitor a universos inesperados.

Entre as histórias mais fascinantes que aparecem no primeiro volume, podemos destacar o conto de “Pescador e o Gênio”, onde um pescador encontra um gênio preso em uma lâmpada. A história é engraçada e cheia de surpresas, com uma mensagem profunda sobre sabedoria e vingança. 

Por outro lado, temos também contos tristes, como o da “Mulher e o Cavaleiro”, que fala sobre o sofrimento causado pela infidelidade e a perda.

O fato de As Mil e Uma Noites não exigir uma leitura sequencial torna a obra ainda mais interessante. Não é necessário ler o livro em uma ordem específica para entender as histórias; cada uma delas funciona de forma independente, com suas próprias tramas e conclusões.

Isso permite ao leitor explorar o que deseja, mergulhar nas narrativas que mais lhe chamam a atenção.

O livro, sem dúvida, é uma das obras mais fascinantes da literatura universal, que mistura elementos de folclore, mitologia e cultura árabe com uma trama envolvente e personagens complexos. 

A figura de Sherazade é emblemática não apenas como a mulher que desafia o poder do rei, mas também como uma representação da inteligência e da capacidade de transformação que o poder da narrativa pode ter.

Citações como a de Sherazade, ao contar uma história para o rei:

“Vou começar uma história, mas não posso terminá-la agora. Só na noite seguinte”: são exemplos da habilidade da protagonista de jogar com o tempo e o suspense, uma estratégia que mantém o rei (e o leitor) sempre à espera de mais.

Como mencionado, As Mil e Uma Noites é uma obra de grande valor literário, e cada história tem seu próprio brilho. Algumas são mais leves, outras mais densas, mas todas têm algo a oferecer. 

Pode ser difícil saber quando encarar os próximos volumes, visto que o número de histórias é imenso, mas a beleza da obra está justamente nessa infinidade de possibilidades narrativas. Ela nos convida a explorar o inesperado, o maravilhoso e o trágico, tudo em uma só obra.

As Mil e Uma Noites é realmente um título indispensável na literatura universal e um dos meus títulos de livro favoritos. Mesmo que a jornada de Sherazade e o trágico destino do rei Xariar sejam o fio condutor da obra, a verdadeira magia da coletânea está nas histórias que se entrelaçam ao longo das noites, desafiando nossa percepção de realidade e fantasia.

Este primeiro volume, então, é apenas o começo de uma exploração que vale a pena ser vivida com paciência e curiosidade.

Manuscrito das “Noites” que integra acervo da biblioteca da Universidade de Tübingen, na Alemanha. Crédito Tübingen Universitat

CURIOSIDADES SOBRE A OBRA

Qual a origem das histórias?

O Livro das Mil e Uma Noites não é uma obra única, mas uma coleção de histórias de várias culturas diferentes, como árabe, persa, indiana e até egípcia. As histórias foram reunidas e editadas ao longo de muitos séculos, começando provavelmente no século IX (9) e se expandindo até o século XIV (19).

A narrativa

O nome Mil e Uma Noites se refere ao fato de que a protagonista, Shahrazade, conta uma história a cada noite ao rei Xariar, para retardar sua execução. Ela narra essas histórias durante mil e uma noites, sempre deixando-as inacabadas até o amanhecer, o que desperta o interesse do rei e impede sua morte. Essa técnica de contar histórias inacabadas gerou um tipo de suspense que se tornaria uma característica das narrativas de contos.

História de Shahrazade e o Rei Xariar

A estrutura do livro se baseia na história principal de Shahrazade, que se oferece para casar com o rei Shahriar, um monarca que havia se tornado cínico e cruel depois de descobrir que sua primeira esposa o traiu. Ele decide casar-se com uma mulher diferente a cada dia e matá-la no dia seguinte, para evitar ser traído novamente. Shahrazade, no entanto, consegue sobreviver contando histórias fascinantes, de forma que o rei se apaixona por ela e, eventualmente, abandona sua intenção de matá-la.

Várias histórias

Dentro da coleção, você encontra uma grande variedade de histórias: desde aventuras de heróis como Ali Baba e os Quarenta Ladrões e Aladino e a Lâmpada Maravilhosa até narrativas mais filosóficas e de moralidade, como as parábolas de animais. Isso fez com que o livro tivesse uma enorme influência sobre a literatura de vários países, incluindo a Europa.

 

Aladin e a Lâmpada maravilhosa

Muitas pessoas associam Aladin e a Lâmpada Maravilhosa ao Livro das Mil e Uma Noites, mas essa história foi adicionada à versão do livro só depois de ser traduzida por Antoine Galland no século XVIII. Galland ouviu a história de um contador de histórias sírio, o que mostra como o livro continuava a ser expandido mesmo depois de suas versões iniciais.

Influência na literatura

O Livro das Mil e Uma Noites teve uma profunda influência sobre a literatura ocidental, especialmente durante o século XIX, quando as traduções para o francês, inglês e outras línguas começaram a ser mais amplamente difundidas. Autores como Edgar Allan Poe, Marcel Proust e Jorge Luis Borges foram inspirados pela estrutura narrativa e pelos temas do livro.

Papel das mulheres

Embora a obra tenha sido escrita em uma época e cultura patriarcal, as mulheres desempenham papéis importantes como narradoras e heroínas. Shahrazade, por exemplo, é uma mulher inteligente, corajosa e astuta, que usa sua sabedoria para salvar sua vida e mudar o destino do reino. Isso foi uma inovação para a época, dando destaque ao papel da mulher como agente de transformação.

Versões e traduções

Existem inúmeras versões do Livro das Mil e Uma Noites, e elas podem variar bastante entre si. Alguns contos aparecem em algumas versões, mas não em outras. Além disso, as histórias foram adaptadas de várias maneiras ao longo dos anos, seja para o teatro, cinema, animação, ou mesmo para peças de ópera.

Nome do livro

O título As Mil e Uma Noites pode ser um pouco enganoso. Embora Shahrazade tenha contado histórias durante mil e uma noites, o número 1001 é mais simbólico, representando uma quantidade indefinida e mágica de histórias. A ideia de “mil e uma” está mais ligada a um número mitológico, que sugere uma riqueza infinita de narrativas.

O gênio e a lâmpada mágica

A obra contém muitos elementos mágicos e sobrenaturais, como gênios, tapetes voadores e objetos encantados. Esses elementos não só deram origem a várias lendas populares, mas também influenciaram o gênero de fantasia em muitas culturas, sendo referência para a criação de histórias no Ocidente, como os contos de fadas europeus.

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