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Sônia Maria: Dos pontinhos aprendidos com Dona Filó à patrimônio vivo de Alagoas 

 

Texto de Ylailla Moraes – Colaboradora | Edição: Gabriely Castelo

Foto: Daniel Borges / Secult

A linha dança entre os dedos da artesã Sônia Maria, seguindo um ritmo que une agilidade e leveza. Ela cria peças delicadas em renda singeleza desde a infância, quando aprendeu com Dona Filó, em Marechal Deodoro.

O nome dado a essa arte tão antiga não foi criado por acaso. A renda singeleza recebe esse nome porque exige muito cuidado das artesãs que trabalham com as linhas, agulhas e tecidos, produzindo pontos pequenos e delicados um a um. Elas compartilham o ofício com aprendizes, mantendo a tradição viva na cultura alagoana.

Após anos no ofício e participação em inúmeros projetos e oficinas, Sônia foi nomeada patrimônio imaterial de Alagoas ainda no ano de 2023. Seu nome foi divulgado pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult) no dia 12 de agosto deste ano, juntamente com o mestre do folguedo, Geraldo José da Silva e o artesão Rubério de Oliveira Fontes.

Esse título é fundamental para mostrar o quanto a trajetória de Sônia Maria de Lucena é importante para perpetuar sua cultura no estado.

A tradição fez parte da vida da artesã desde cedo, e ela recorda com afeto: “Nunca imaginei que aqueles pontinhos que eu aprendi com a Dona Filó, onde eu fosse dar oficinas, ensinaria tantas mulheres e chegaria a ser Patrimônio Vivo de Alagoas”.

Foto: Arquivo pessoal

Sônia conta que tudo começou em Marechal Deodoro, município onde ela morava com a família quando criança. Seus pais eram Marinete Sinésio de Lucena e seu pai José Daniel.

Certo dia, sua mãe, que também possuía grande inclinação artística bordando e tocando saxofone, foi com ela até a casa de Dona Filó, com quem Sonia aprendeu toda essa arte mimosa de detalhes.

Ela ainda fala com orgulho de suas origens e principalmente de Dona Filó como uma figura central na sua jornada. “Eu sempre vou falar e mostrar as fotos de Dona Filó.” diz ela e ainda expressa o quanto é importante “repassar o saber da renda singeleza”.

Ainda relembrando dos tempos em que vivia com os pais, ela diz que Dona Filó era uma pessoa muito reservada e tímida, quando a conheceu vendia sua arte com a filha “de porta em porta”.

Foto: Arquivo pessoal

Ela fala sobre as iniciativas das quais participou, como o projeto “Redobrando o Bico Singeleza”, criado por Adriana Guimarães e Rosemeire Ferrari. Inicialmente, a primeira professora foi Dona Marinita em Paripueira, e depois Dona Benedita assumiu no Museu Théo Brandão, em Maceió.

Outro projeto relevante foi a Universidade Solidária, uma colaboração entre o Cesmac e o Santander, onde Sônia lecionou em Paripueira.

“Hoje, é uma associação bem organizada, com sede e todas as instalações”, relatou.

Ela também foi convidada pela arquiteta Maria Eugênia Brandão, para trabalhar em um outro projeto, em Denisson Menezes, conjunto da capital alagoana.

Lá, assumiu também o papel de professora e formou muitas mulheres no ofício da renda.

Sônia ainda pretende se dedicar e continuar exercendo esse papel tão importante, incluindo o desenvolvimento de um polo na Ilha da Croa.

“Nós temos o polo de renda singeleza de água branca em Marechal Deodoro, em Maceió, em Paripueira e eu gostaria muito de construir um polo aqui”.

Sua ideia seria expor as peças em dois grandes hotéis que a ilha possui, o jangada e o lontra. Sônia também relembra com carinho a memória de figuras que também foram muito importantes no cenário cultural de Alagoas.

“É uma pena Alagoas ter perdido o grande guardião do folclore alagoano, que foi o nosso Ranilson França. A partida de Ranilson foi muito sofrida para todos”, disse.

Ele foi um importante estudioso e defensor do folclore alagoano. Formado em Pedagogia e Educação Artística, foi professor de Folclore no CESMAC, além de ter sido Coordenador de Ação Cultural e Secretário Estadual de Cultura de Alagoas, fundando a ASFOPAL, Ranilson faleceu em 14 de agosto de 2006, deixando um grande legado, como é lembrado pela artesã.

Daniel Borges / Secult

Uma das suas preocupações atuais é a guarda de conhecimentos que precisam ser passados de geração em geração para permanecerem vivos na nossa cultura.

“Eu acho que os grupos de folclore precisam de mais apoio, porque os mestres já estão idosos e precisam repassar o saber, dos guerreiros, dos reisados, de todos os grupos”

Atualmente, ela mora na Barra de Santo Antônio, região metropolitana da capital, ainda cultivando e compartilhando conhecimento.

“Enquanto eu tiver disposição, enquanto eu tiver a vista boa, enquanto eu tiver os movimentos nas mãos, eu vou tentar repassar o saber da renda singeleza”

Sonia divulga os projetos que faz parte e as artes que produz em seu perfil no instagram: @singelezaalagoas

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