Texto por Bertrand Morais
O nome que é referência a quem foi um intelectual viçosense com livros publicados como “Reisado Alagoano” não dá nome apenas, hoje, a um suntuoso museu de antropologia e folclore localizado à beira mar da Praia da Avenida. Também nomeia uma escola pública a poucos quilômetros dali com estudantes aguerridos, no conjunto Santo Eduardo, bairro do Poço, em Maceió.
Para muitos alunos parece o fundo do poço mesmo ter que estudar, se alimentar e ainda escolher (quando é possível) trabalhar ou fazer isolamento por conta de uma pandemia. Sabemos que não tem sido fácil os últimos tempos para ninguém. Mas para eles, por vezes, as reinvindicações são tantas e básicas, tais como, acesso a internet para estudar em casa ou ter passe livre no transporte até a escola no retorno às aulas, que a coletividade faz a diferença. A Ala Jovem Alagoas é um desses movimentos.
Era para ser apenas um grêmio estudantil, mas hoje vai além e tornar-se uma espécie de mentoria para grêmios de outros colégios e combustível para mobilização de campanhas contra aquilo que ameaça o próprio ato de estudar: os seguidos cortes e/ou reduções de repasses públicos para a educação. Como se a pandemia já não fosse prejuízo o suficiente.
e para o negacionismo ser um cientista é ato glorioso, para a opressão ser estudante é ato de resistência. Entrevistamos alguns dos jovens que compõem a entidade Ala Jovem Alagoas, que tem representado a juventude alagoana por democracia, luta e voz. A entrevista aconteceu simbolicamente no CEPA tendo sido gravada e você confere os vídeos no feed do nosso instagram. Aqui, as falas estão manuscritas:
O que é a Ala Jovem (@alajovem.oficial)?
Natalício Vieira, 19 anos, secretário de gestão – A nossa entidade vem desde 2019 promovendo ações culturais e sociais, de esporte e lazer, com a juventude. Também atuamos dentro dos grêmios estudantis de AL. O nosso movimento nasceu em meio ao anseio da juventude e estudantes por uma entidade que, de fato, os representassem nesses dois segmentos.
Quais foram os anseios à época que fizeram surgir o movimento jovem?
Daniel Azevedo, 21 anos, presidente do movimento – A Ala Jovem surgiu entre amigos que se juntaram com as mesmas ideias e objetivos de criar um grêmio estudantil que fosse independente, pensasse no estudante, e que defendesse todos os seus interesses, acima de tudo. Assim, com a junção de todas essas ideias, a gente conseguiu montar uma chapa forte à época, de pessoas com os corações bons e que tinham esse anseio, de fato, para representar os estudantes do ensino médio. Foi assim que começou o intuito e a ideia de criar-se e prosseguir com a Ala Jovem.
Como o movimento enxerga os impactos recentes, tais como pandemia e desmonte de políticas públicas, na educação d@s jovens alagoan@s?
Mateus Cavalcante, 19 anos, secretário de políticas educacionais do movimento – O que me chama atenção para exercer o cargo o qual estou é como o ministério da educação, no começo da pandemia, fez sua ações. Por exemplo, um relatório da UNICEF dizia que, o Brasil, no processo como estava iria perder, caso não houvesse mudança, trinta anos de educação conquistados. Isso me motivou a estar aqui na Ala Jovem. Outro ponto é o do Passe Livre que, para mim, é uma política fundamental de quaisquer países desenvolvidos. Aqui no Brasil, o estudante escolhe se paga a passagem até o colégio ou ajuda com o feijão e arroz com a mãe. É uma decisão complicada.
Agosto lilás, dia do estudante e internacional da juventude. Como se correlacionam para a Ala Jovem?
Victória Freire, 18 anos, secretária da mulher e dos direitos humanos – Eu sempre fui revoltada com casos de assédio, principalmente nas escolas. Eu já sofri assédio de dois professores com abraços e conversinhas que me revoltaram bastante. A partir dessas experiências, decidimos criar esta secretaria a qual estou à frente. Nela, representamos mulheres e jovens meninas, além de qualquer ação que infringem os direitos humanos. Eu já fui vítima e hoje luto e debato contra tais violências. Estou muito feliz de estar onde estou.
Como são vistas as ações culturais dentro das escolas?
Guilherme Luiz, 19 anos, secretário de cultura do movimento – Faço parte da cultura nerd e como líder cultural no estado de AL, para mim, a cultura deve começar dentro das escolas. Desenvolvi vários projetos, entre eles, a Otaku Alagoas, o qual sou presidente, que é um segmento da cultura nerd. Também criei o Festiva Nerd, que é um evento realizado em Maceió, para jovens e pessoas de várias idades cativas a cultura nerd. Foquem muito na questão cultural, porque isso é muito importante no desenvolvimento dos jovens.
Quais são os compromissos com a diversidade dentro e fora do movimento estudantil?
Willyan Rodrido, 21 anos, vice-presidente do movimento – Eu tenho déficit de atenção e sempre tive muita dificuldade em aprender. Cheguei a repetir o ano por falta de diagnóstico e tratamento correto para com minha deficiência. Na Ala Jovem, temos pessoas de várias comunidades, tais como LGBTQIA+, pessoas gordas e magras, mulheres, entre outros grupos da diversidade, porque a gente quer trazer essa inclusão e diversidade para representar melhor o jovem alagoano. E é dando exemplo dentro da nossa entidade que conseguimos levar adiante também para toda Alagoas.