Derravera: marca alagoana que tem Manur Afazelo como diretor criativo.
Coluna de Wilson Smith
A moda sustentável é baseada na preservação do meio ambiente em todas as suas etapas de produção, caminhar nessa direção é essencial. Embalado por essa atmosfera necessária de aliar o universo criativo ao contexto sustentável, temos um excelente representante em Alagoas: Manoel Omena, mais conhecido por Manur Afazelo. Aos 23 anos, Manur apresenta um trabalho extremamente consistente como Diretor Criativo da sua marca Derravera, que é especializada em tingimento natural. Esse processo de tintura artesanal com pigmentos naturais botânicos segundo a comunicação online da marca é um aprendizado “além-moda”, pois esse campo é rodeado por percepções onde cuidado e atenção determinam os resultados que transcendem a aparência.
Dotado de muita sensibilidade e potencial criativo, Manur atualmente está estudando Design e carrega em seu currículo a formação em Produção de Moda pela Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas. Em 2019, ano de conclusão do curso, seu TCC foi sobre Moda e Desenvolvimento Sustentável, o projeto deu origem ao que hoje é a marca Derravera. A brand tem uma bossa artística muito peculiar e que vamos entender mais ao longo dessa conversa concedida com exclusividade para a Revista Alagoana.
Confira a entrevista com esse entusiasta de tudo que diz respeito à sustentabilidade, se dedica ao campo da moda e oportuniza tudo o que surge dela:
- Como começou a aflorar seu interesse pela moda?
Manur – Acho que foi enquanto estudava. Sempre foi uma relação muito inconsciente e intuitiva. Agora, vendo do presente momento, se assemelha muito a montar um avião enquanto ele decola; aprendi a amar e odiar a área enquanto estudava sobre. E sobre “aflorar”… precisei primeiro procurar a semente que ia semear nessa imensidão que é a Moda e depois, preciso nem falar que é um cuidado diário, é necessário paciência, principalmente quando se busca uma moda mais sustentável em todos os sentidos.
- Tem algum motivo/história por trás do nome da sua marca?
Manur – A marca não é só um sonho no sentido subjetivo da coisa. Ela foi um sonho literalmente para mim. A palavra “Derravera” é fruto de um sonho que tive numa época bem frenética da faculdade, então posso dizer que antes de ser uma marca, a Derravera foi uma palavra que eu precisei buscar significados. Inclusive, depois descobri que etimologicamente, “Derravera” significa “a última verdade” e também “o que vem depois do verão”. Gosto também quando as pessoas pensam que é uma antologia à Primavera, porque me faz lembrar que também somos feitos de fim.
- Apresente a Derravera para os leitores da Revista Alagoana.
Manur – A Derravera, como falo sempre, tem muito a energia de uma estação, ela permite transformar com a energia que tem no momento. Ela é própria e de natureza íntima: tem seu próprio tempo e cria sua própria narrativa através das imagens e do que é materializado em produto e tudo parte da premissa do sonho. Ela é, e precisa ser lúdica, cheia de significados, porque trabalhar com moda, ainda mais buscando a sustentabilidade, não é fácil, a gente precisa criar mecanismos até para nós que estamos trabalhando nos bastidores, acreditarmos num cenário melhor e mais positivo.
Poderia dizer que nossos pilares são os mesmos pilares da sustentabilidade (o econômico, o ambiental, o social e o cultural), mas acho que acrescentaria a educação como mais um pilar, assim como a licença poética para comunicar, tem que ser tudo muito orgânico e acessível. Tem que chegar nas pessoas de alguma forma e trazer alguma transformação.
- Como é o seu processo criativo?
Manur – Me baseio muito na estimulação dos sentidos e acrescento que somos ousados nesse objetivo, pois até o sexto sentido estamos tentando aguçar em tudo que é desenvolvido aqui na estufa. Mas, um ponto que eu, Manur, diretor criativo da Derravera, não abro mão é o respeito ao que as emoções do momento querem me dizer no processo criativo.
- Como funciona a produção da marca?
Manur – A produção é própria e uma parte dela é terceirizada pelo ateliê Alda Gomes que é quem está conosco desde o começo e ajuda a materializar as roupas na parte de confecção. São muitas etapas e todas demoram muito, principalmente o tingimento natural.
- Qual o perfil/público alvo da marca?
Manur – Desde o começo meu público é mais maduro, e aqui eu não falo de idade, falo da forma de enxergar. É um público que entende ou quer entender o que está consumindo. Mas, a pretensão é ser uma marca que se comunica cada vez mais com essa nova geração, porque eles serão os consumidores “maduros” do futuro e quanto mais cedo houver esse diálogo, mais impacto positivo será gerado no mercado da moda.
- Como o público pode adquirir peças da marca?
Manur – Nossos canais principais são através do e-commerce pelo alcance que ele tem a nível nacional, mas nesse ano que se inicia tivemos o prazer de estar junto ao Estúdio Alavantú em um espaço físico que tem sido um divisor de águas na experiência e troca com os consumidores da marca.
- Como foi sua experiência desfilando no Renda-se?
Manur – Foi desafiador e incrivelmente gratificante. Acho que o Renda-se me tirou um pouco da zona de conforto criativa quando deu liberdade para explorar outras matérias-primas e, ainda assim, unir essa inovação ao saber ancestral do bordado filé. Nostalgia define as lembranças sobre o Renda-se e a equipe que esteve conosco nesse tempo.
- O que você deseja transmitir com suas criações?
Manur – Para além da função da roupa de proteger e comunicar como objeto de expressão, tento sempre ter em mente que minhas roupas embalam momentos, sensações e pessoas. Adoro o significado que a palavra embalar tem e gosto de pensar que embalo pessoas não para presente, mas para “O Presente”.
A linguagem que Manur constrói através das suas criações validam todo esse bate-papo que tivemos. Estamos frente a um talento expoente da nossa Alagoas. E aqui, fazemos votos para que a marca trilhe seu caminho de ascensão vestindo não apenas o corpo, mas a essência do seu público. Vida longa para Derravera!