Texto de Ylailla Moraes – Colaboradora | Edição: Gabriely Castelo
“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.” Quando Jorge Luis Borges, escritor argentino, escreveu essa frase imortal, ele expressou a paixão de cada leitor por esse universo infinito, que, como afirmou Umberto Eco: “Quem não lê, aos 70 anos, terá vivido apenas uma vida: a sua. Quem lê terá vivido 5.000 anos. A leitura é uma imortalidade de trás para frente.” Em Alagoas, diversos grupos de leitores apaixonados têm se dedicado a compartilhar essa imortalidade por meio de clubes de leitura.
Participar de um clube do livro oferece uma oportunidade única para quem ama literatura. Não se trata apenas de aproveitar o prazer da leitura, mas de debater as páginas lidas, se emocionar com os trechos compartilhados e até mesmo encontrar a motivação para manter o hábito de ler, que muitas vezes é desafiado pela rotina e pela falta de tempo.
Esses encontros também funcionam como âncoras de salvação e reinvenção, como é o caso do Clube “Renascimento Literário”, fundado por Gabriela Melo, de 28 anos. Criado em 2018, o clube inicialmente se chamava “Resistência Literária”, mas mudou de nome durante a pandemia. Para Gabriela, o propósito sempre foi expandir os horizontes literários.
“Criamos o clube para sair da zona de conforto literária, ler além dos nossos gêneros favoritos e descobrir novos autores. Cada membro traz algo único, com gostos variados”, explica.
As reuniões mensais do clube, realizadas em cafeterias de Alagoas, são abertas a novos participantes. Basta ler o livro escolhido e comparecer ao encontro.
Para ela, esse espaço colaborativo também se tornou um refúgio pessoal e uma forma de autoconhecimento.
“A leitura sempre foi minha terapia, meu refúgio desde a infância. Ela me transporta para outros mundos e me trouxe amigos incríveis”, conta.
Um dos livros que mais a impactou foi Flores para Algernon, lido pelo grupo em abril de 2020.
“Acompanhar a transformação do protagonista, uma pessoa com deficiência intelectual que passa por uma experiência científica, mexeu muito comigo. Esse livro tem tantas camadas que o debate foi profundo e sensível.”
Atualmente, ela está terminando seu curso de biomedicina e tem preferência por ficção científica, fantasia, distopias e romances históricos. Ela conta que, com o tempo, seus gostos literários também evoluíram.
“Quanto mais leio e envelheço, percebo que meus interesses e gostos mudam”, diz.
Lua, também conhecida como Luana, encontrou em um clube de leitura um espaço de conforto e incentivo. Com 16 anos, ela ingressou no clube de leitura do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) assim que começou o curso integrado de Eletrotécnica. Lua, incentivada pelos avós — que, apesar de não terem formação acadêmica, sempre valorizaram a educação — se apaixonou pela leitura desde muito jovem.
“Aprendi a ler muito cedo e me apaixonei pelo mundo dos livros. Sempre fui aquela criança que adorava imaginar”, lembra.
“Lá, posso ser eu mesma, seja mais falante ou mais introspectiva, dependendo do dia. Além disso, conhecer pessoas com gostos literários diferentes enriquece muito as discussões e amplia minha percepção sobre os livros.”
Outro clube que também tem despertado interesse é o Clube de Leitura Pernoite, que acontece no Sesc Poço. Ana Luisa, uma de suas participantes, foi atraída pela possibilidade de realizar uma leitura crítica de textos originais produzidos pelos membros.“Sempre gostei de escrever, mas nunca mostrei meus textos. Vi nisso uma oportunidade de melhorar minha escrita e me desafiar”
“Lembro de um encontro no Halloween do ano passado, em que o livro discutido era de terror, mas acabamos focando nas histórias sobrenaturais pessoais dos membros. Foi muito mais interessante que o livro em si.”
“Ler sabendo que vamos discutir o livro até o final do mês me faz refletir mais profundamente e registrar os momentos mais marcantes para compartilhar. Um livro ruim, por exemplo, rende mais conversa no clube do que se eu estivesse lendo sozinha”, diz.
Além desses, muitos outros clubes de leitura no estado oferecem oportunidades para troca de ideias e experiências literárias. Em Arapiraca, por exemplo, existe o Clube 42, que está atualmente na penúltima leitura do ano com o livro Fique Comigo, de Ayòbámi Adébáyò, uma obra nigeriana.
Informações sobre inscrição e dinâmica do clube podem ser encontradas no Instagram (@42clubedolivro).
O “Leia Mulheres em Arapiraca” é uma outra iniciativa, que além de reunir leitores, também divulga as produções de escritoras e poetas do nosso estado. No perfil do instagram do clube é possível encontrar indicações de leituras, textos autorais, e também indicações em vídeo dos livros, em que as participantes falam um pouco sobre a leitura mensal do clube e convidam pessoas interessadas a conhecerem melhor o projeto.
A bio do insta (@leiamulheresarapiraca) do clube sempre é atualizado com o titulo da leitura atual e também o local e horário do encontro.
Já o Clube do Livro Quintal Jaraguá, oferece a oportunidade de duas experiências, uma de livros de suspense, e livros com temáticas sociais. Para participar só é preciso entrar no grupo do Whatsapp disponível na bio do insta do clube ( @clubedolivrodoquintal ). Além das leituras compartilhadas, também são organizadas outras atividades culturais, como brechós e feiras.
Esses clubes têm se mostrado espaços importantes para fomentar o hábito da leitura e a troca intelectual, criando comunidades de leitores que compartilham uma mesma paixão: os livros.