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Coluna de Jorge Vieira

“O grande poder da fotografia é que ela nos dá a base para encontrarmos um lugar comum com pessoas e eventos com que nunca teríamos nos conectado.”

O verbo mudar talvez ande gasto e, quem sabe, um tanto desacreditado.

Acabamos de sair de uma campanha eleitoral com representantes de velhas oligarquias se apresentando como candidatos da mudança, por exemplo. Isso desgasta o sentido da palavra mudança, “que é o ato ou efeito da variação de algo de um estado para outro” (dicionário Houaiss).

Mas, essa variação faz parte da história da humanidade, malgrado tenhamos tantos agentes a comprometerem a crença na mudança. Nessa dinâmica histórica temos ícones como Paulo Freire (1921/1997) que, ao longo de sua vida, recebeu mais de cem títulos de doutor honoris causa pelo seu método de alfabetização, um tratado de como transformar a sociedade, que tem no compromisso com a própria realidade peça chave para que todas as pessoas sintam pertencimento social e possam agir nas mudanças.

Mudança é, pois, processo sem fim. O próprio Freire afirma que a pessoa não está pronta, como um objeto que sai da linha de produção. A pessoa está se fazendo, ao longo de sua trajetória social, no ritmo de sua capacidade de criticar a si mesma e as coisas em seu redor.

Mas, qual o redor que vemos?

O fotógrafo americano Albert Maysles (1926/2015) atestou que “o grande poder da fotografia é que ela nos dá a base para encontrarmos um lugar comum com pessoas e eventos com que nunca teríamos nos conectado.” A fotografia, pois, tem o poder de abastecer nosso redor com as imagens do mundo. E muitas dessas imagens têm feito pessoas, comunidades, tomarem atitudes por mudanças. Exemplo atual são os flagrantes de racismo, que têm impulsionado discussões sobre o tema e avanços no trato da discriminação.

Respondendo à questão que intitula o texto, a fotografia não muda o mundo, são as pessoas que mudam, cujas posturas historicamente são alimentadas pela Fotografia, ao trazer aos olhares, eventualmente distantes, o conhecimento do que se passa ao redor, especialmente quando este não lhe é imediato.

Mas, e o redor de quem fotografa?

Fotógrafo(a) não é pessoa treinada a ver o belo (apesar do grande derrame de fotos melífluas). Antes, é alguém provocado a rever o mundo. Dorothea Lange (1895/1965), fotógrafa americana, asseverou que “a câmera fotográfica é um instrumento que ensina a gente a ver sem a câmera”. Pelo que concluímos que o instante decisivo para quem fotografa “não está na distância adequada da fotografia (foco), mas na proximidade com o mundo em que vamos nos encontrar” (Luisa Duarte, crítica de arte e curadora).

Ao fotógrafo e à fotógrafa resta, então, a deliciante experiência de fazer de sua câmera testemunha de um olhar comprometido com a mudança que o mundo, naturalmente, demanda.

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