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Penedo e Arapiraca: O que o Circuito de Cinema pode aprender com um Núcleo do Audiovisual?

Texto por Bertrand Morais

De fato, o Circuito Penedo de Cinema vem se tornando uma referência nacional no quesito mostra audiovisual gratuita ao público. Também movimenta a cadeia turística desde o deslocamento pela cidade à alimentação gasta, passando até pelos passeios pelo ‘Velho Chico’ e outras atividades. Sem mencionar a possibilidade de intercâmbio cultural entre pessoas vindas das mais variadas regiões do estado e do País.

Tudo isso é o que nós vemos. O que podemos desconhecer é que Alagoas vai além, e com isso, podemos sair de Penedo e percorrer cerca de 70km ou uma 1h em carro  de passeio para conhecer o Navi – Núcleo de Audiovisual de Arapiraca – existente de forma independente desde 2017. O jornalista que vos escreve fez esse caminho.

Mas, antes é preciso voltar dois dias antes, ainda no Circuito de Cinema. Ao chegar nessa frondosa cidade banhada pelo Rio São Francisco, apronto-me ansioso para meu primeiro dia nela, após uma exaustiva caminhada até o hotel onde eu tivera hospedado, por ter errado nos cálculos do desembarque. Durante minhas passadas sob sol forte, não conseguia sentir uma atmosfera acolhedora para uma sexta de festival anual de cinema. Assim, preferi seguir minha intuição para chegar ao hotel.

Aprumado e renovado, retorno às ruas e opto por pegar o ônibus público da cidade, como o fiz durante meus dois dias em Penedo. Dessa forma, consigo vivenciar mais a rotina da cidade durante o percurso de cerca de 3km até saltar no Centro Histórico da cidade. Minhas primeiras impressões estavam certas: havia movimento de moradores pelas ruas, mas não para prestigiar o Circuito de Cinema. Com raras exceções nos shows noturnos.

O céu ainda estava claro, quando entro numa singela tenda preta, após calorosa recepção na entrada e assisto aos curtas “Pequeno Portugal” e “Mãe Solo”. Este último meio que remete à história de minha querida mãe Leide.

A maior surpresa do dia veio no entardecer para o começo da noite: dentro da tenda, um senhor vem em minha direção e o olhar dele não me era estranho, até que em frações de segundos, lembrei “é meu xará que vem aí”, e o abordei me identificando também como Bertrand. Acreditem se quiser, mas há outro de mim nordestino (paraibano, precisamente), jornalista e, modéstia a parte, simpático. Certamente, uma excelente oportunidade para uma boa conversa com companhia até da chuva. Por que será rsrs?

Impressionante encontro, né? Pois, eu também achei. O nome dele é Bertrand Lira e vou deixar um de seus textos sobre o Circuito aqui. E o documetário, ao qual ele produziu que me fez descobrir a existência desse meu xará.

No meu segundo dia de Circuito assisto ao longa-metragem “O Silêncio da Chuva” de Daniel Filho, e no elenco nomes como de Lázaro Ramos, Cláudia Abreu e Mayana Neiva. Esta última atriz me fazendo uma nova surpresa também vinda da Paraíba – seu estado natal – para minha admiração: esteve ao meu lado durante todo o filme sem dar-me conta, até as luzes acenderem e ela ser chamada para fotos com o público seguido de um debate.

Mas, outra feliz coincidência horas antes desse momento me ocorrera. Na hora do café da manhã, encontro hospedado no mesmo hotel, meu professor do curso já concluído de produção de audiovisual, Leandro Alves. Ele comentara sobre seu regresso à sua cidade no dia seguinte, para participar de roda de conversa na Feira Literária de Arapiraca ou FLIARA. Aquilo me soou como recado da espiritualidade para eu não desperdiçar aquela oportunidade.

Assim o fiz, e de manhã já estávamos se dirigindo à Arapiraca com mais uma surpresa: seguia também conosco o ator alagoano da Globo, Erom Cordeiro, o qual também participaria das atividades na capital do agreste. E é daí que começa minha imersão audiovisual local.

Movimento de jovens pra lá e pra cá, secretário da cultura ali presente e outras pessoas dentro e fora da Casa de Cultura de Arapiraca, uns passando olho em livros e outros ajudando a retirar a água acumulada nas tendas externas. Tudo isso, poucas horas depois de um forte temporal atingir a cidade, mas o povo de Arapiraca queria prestigiar aquele evento importante pra cidade.

E isso torna-se nítido na mesa temática intitulada “a gente vê, a gente começou”, com participações especiais de Nilton Resende, diretor do curta A Barca, e do ator Erom Cordeiro, além do arapiraquense Leandro Alves, mestre em cinema, e dos pernambucanos radicados na cidade, Wellima Kelly e Wagno Godez. Todos os três últimos, com muito suor, fundaram o Núcleo do Audiovisual de Arapiraca, ou apenas Navi.

O Navi, desde 2017, se empenha em produções audiovisuais independentes dos seus três organizadores e, também realizam oficinas e cursos voltados para a área. Em outubro, tive o prazer de estar coletivamente participando do meu primeiro set, e do primeiro do Navi fora de Arapiraca durante a pandemia, na cidade alagoana de Belém. Você confere aqui como foi minha experiência.

Talvez a principal lição que fica de Arapiraca à Penedo e quaisquer outras cidades alagoanas é uma fala do ator Erom Cordeiro na mesa temática “Se você quiser ser universal, fale do seu bairro e da sua comunidade”. E de orgulho de suas próprias histórias, os arapiraquenses não carecem.

 

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