asfixiaO joelho espreme o pescoço dele. A cabeça inclinada para o lado tira seu olhar daquilo que pode vir a frente. Seus membros paralisados pelo peso do racismo grudam-se ao chão imobilizados. Seus pulmões agonizam procurando o ar. Em seu rosto, o suor de quem luta. Em seus olhos, um pedido de socorro que alguns conseguem decifrar. Seu fôlego de vida dependia apenas dos joelhos de um homem pago para trazer segurança mas que, na verdade, é apenas um racista a favor dos seus cruéis interesses, governado por um sistema fatal.

Desesperado, ele clama por uma chance de viver. “Não consigo respirar”, ele repete até que conseguem calá-lo e, pelas suas narinas, vem o último suspiro. O mesmo suspiro de João Pedro dentro de casa, Ahmaud Arbery enquanto corria num parque, Jemel Roberson quando curtia com os amigos, Pedro Gonzaga no chão frio do supermercado ou Marisa enquanto defendia a vida do seu filho. Até quando eles terão que lutar para respirar?! Até quando teremos que falar que suas vidas também importam?

Confesso que apenas imaginar esses momentos já me faz perder o fôlego. Não consigo respirar quando lembro das vezes em que fui revistado porque minha maior ameaça é a cor da pele. Não consigo respirar quando lembro do dia em que a cobradora do ônibus gritou de “medo” quando o preto aqui se aproximou para pedir uma informação. Não consigo respirar tranquilo quando penso que poderia ser eu, mas sei que a cor da minha pele precisa se impor diante da crueldade que me asfixia.

Não se pode mais ignorar os comportamentos, a violência, a falta de representatividade em tantos setores da sociedade. Ainda que joelhos tentem nos estrangular, não podemos sucumbir ao último suspiro. A cada morte negra, muitos morrem. A cada grito por justiça, os que morreram ganham vida!

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