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Carminha: dona das mãos que resgatam a culinária brasileira em Alagoas

Texto de Bertrand Morais

Tapioca, grude, brasileira, macaxeira, pé de moleque e, claro, bolos de variados sabores, tais como massa puba, milho, mandioca e etc. Todas essas iguarias, além de dar água na boca, podem ser muito comuns nas mesas dos alagoanos. Mas o que poucos sabem é que os pratos se tratam de uma culinária originária do Brasil, carregada por duas raízes incontestáveis: indígena e quilombola.

Afortunados sejam àqueles que resgatam e semeiam tradições de um povo. Maria do Carmo dos Santos é um desses exemplos. O sorriso constante no rosto, enquanto suas mãos ágeis preparam mais uma rodada de quitutes não nega sua felicidade em transformar comidas ancestrais, em sabor para quem se alimenta e fonte de sustento para seu próprio lar.

A Revista Alagoana traz o perfil de Carminha, como é popularmente conhecida.

Numa manhã quente e ensolarada chego a uma residência situada em uma avenida principal da cidade de Coqueiro Seco. Mandam-me entrar e já na metade de um corredor largo, sou recepcionado por Carminha com uma autêntica cordialidade. Após apontar para alguns membros da movimentada casa apresentando-os, sou direcionado a descer com ela uma escada que dá acesso à cozinha.

Mas é direto para o quintal ao lado do mencionado cômodo que sou levado. Nele, muita vegetação e árvores frutíferas bem distribuídas pelo amplo espaço. Patos e galinhas ciscam por todo lado também. E no meio daquele espaço, meus olhos são atraídos para uma simples construção cercada apenas por algumas colunas de concreto e telhado Brasilit. Carminha logo se apressa em entrar no cercado; mais uma rodada de quitutes está saindo a todo vapor.

Sigo-a e encontro o local de produção de sua culinária que lhe rende tanta fama. Tudo soa rústico e original. O chão do espaço é de cimento batido. Balcões, bancos e instrumentos de cozinha estão espalhados por todo canto, porém de forma organizada. Também há pia e o fogo artesanal a lenha. O cheiro de comida se espalha facilmente ajudado pela boa ventilação existente.

O marido de Carminha, seu José Ivídio dos Santos, se apresenta. Desde que se casaram e foram morar juntos ainda na década de 70, Carminha lembra que pôde ter seu espaço garantido para a continuidade de seu saberes culinários. Ele, por sua vez, contribui com o funcionamento do patrimônio gastronômico originário em sua família, fornecendo os cortes de madeira para lenha, as folhas da bananeira, entre outros serviços.

Carminha em sua cozinha cercada por muito verde é só alegria e contentamento. Ela mostra a brasileira quentinha que acabara de sair do fogo. Também exibe a massa já preparada para a moldura seguida de grelha na chapa de ferro dos famosos pés de moleque. O cesto já está posicionado para receber todos eles quando prontos para consumo. Ajeito a câmera direcionando à Carminha, ela põe um sorriso no rosto quase que incessante e os trabalhos começam.

Um punhado de massa é colocado sob uma palha de bananeira e com as mãos habilidosas de Carminha ganha formato. Após isso, a iguaria é levada à chapa quente sustentada por uma estrutura de concreto, cimento e açúcar misturados com uma abertura deixada próximo ao chão, onde são colocadas as lenhas. Esse processo se repete até acabar a matéria prima, ou seja, a massa. A chapa fica repleta de rolinhos enroladas na palha de bananeira.

Cada unidade do quitute mencionado acima, após algumas viradas na chapa para não torrarem, já estão prontos em 15 minutos. Devidamente assados, o cesto de palha é o local de destino de todos eles. E são muitos. O cheiro predomina o ambiente atraindo humanos e bichos. Estes últimos, uns são atraídos pela oportunidade de se aquecerem próximos as chamas do fogão a lenha, outros pela chance de obterem algumas migalhas. 

E, dessa forma, a rotina de Carminha é dividida entre afazeres domésticos e resgate de comidas ancestrais que lhe dão prazer em manusear. Para quem aos 16 anos precisou ir trabalhar em casas de famílias, e ao ser perguntada o que sabia fazer na cozinha, com franqueza responder “sei fazer nada”, orgulhosamente ela se sente uma vitoriosa.

Ela lembra que agarrou-se nas oportunidades que viu nos dotes culinários juninos da mãe e as casas em que passou, para conquistar seu lugar ao sol. E nos parece que esse mesmo astro solar vem a guiando numa tarefa digna de louvação: o resgate ancestral. Carminha não prepara comida gourmet, ela oferece gastronomia genuinamente brasileira.

Além dos quitutes, Carminha também fornece café regional completo e frutos da lagoa, tais como: sururu, filé de siri, camarão, entre outros, sob encomenda. Ela faz entrega também na capital, Maceió.

Número para contato: (82) 98836-8734  – Ligação e WhatsApp.

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