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Cordel: uma literatura de todos os brasileiros

O criador se orgulhou

Dessa obra inacabada

E só para incrementar

Colocou nesse lugar

Nossa Alagoas falada

Catolé, Praia do Saco

Pajuçara, que beleza

Lagoa Azeda, Roteiro

Perfeições da natureza

Porto Calvo, Pratagi

Piranhas, Ouricuri

Velho Chico, Correnteza

Ponta Verde, Jatiúca

Vergel, Farol, Bebedouro

Arapiraca, Santana

Jorge de lima, um ouro

A navegar de Canoa

Comtemplo este tesouro

Quando chega nesta terra

O Turista se apraz

Ao ver toda essa força

Que seu povo é capaz

Com todo nordestino

Diante do desatino

Consegue viver em paz

Penedo, catamarã

Caranguejada, União

Jacintinho, Benedito

Alto do Céu e Bolão

Tem Bom Parto e Clima Bom

Carlos Moura e seu som

Só nos traz Satisfação

Coco de Roda, Guerreiro

Pastoril com tapioca

Um sururu de capote

Na praia de Ipioca

Ledo Ivo e seu “Ninho”

Fleixeiras e Curralinho

Tem Capela e Mandioca

Mundaú, Maragogi

Os sargaços, os corais

Paripueira te amo

Guaxuma, seus coqueirais

Graciliano, Zumbi

Tudo isso é daqui

Da Terra dos Marechais

Setilhas Alagoanas – Ciro Veras

Cordel, ou textos rimados impressos em folhetos e pendurados em cordas. Também conhecidos como Cordéis Nordestinos. Vendidos em feiras e que trazem muito da cultura local, sendo o seu nome derivado da forma como são vendidos, pendurados em cordas, daí vem o nome Cordéis. Originalmente, a literatura de cordel veio de Portugal, sendo as histórias espalhadas por trovadores para a população, que na época era em sua maioria analfabeta. Normalmente, eram relatadas oralmente, sendo depois adaptada em forma de folhetos impressos.

Na capital alagoana, mais especificamente no centro de Maceió, subindo a rua da Praça Dom Pedro II, nas instalações da Biblioteca Pública Graciliano Ramos, fica a sede em Alagoas dessa expressão artística. Tendo como fundador e primeiro presidente Ciro Veras, com talento de escritor desde a adolescência, e que diz ter se descoberto cordelista aos 57 anos, a Academia Alagoana de Literatura de Cordel, inaugurada em 1 de novembro de 1919, tem o objetivo de resgatar e preservar o hábito da confecção e leitura desta arte.

Com isso, a academia acolhe inúmeros cordelistas, dos mais novos aos mais antigos, os profissionais e os que estão começando agora e querem se aperfeiçoar, podendo ser citado o tão conhecido Jorge Calheiros, que autodidata, começou a se apaixonar pela literatura ainda na infância, e hoje, com mais de 100 cordéis de sua autoria, é considerado também desde 2011 Patrimônio Vivo de Alagoas.

Ciro Veras juntamente com sua esposa, Alexandra Lacerda, falam um pouco sobre como é ser cordelista no estado e onde tudo começou: “Desde os meus 14 anos que faço poesia. Apesar dos meus poemas serem em versos livres, eles sempre tiveram o ingrediente das rimas”, diz Ciro.  Mas a sua paixão propriamente dita se deu após escrever seu primeiro cordel em 2016, cujo texto foi enviado para uma editora da Bahia. Lá, eles fizeram a revisão de métrica e rima. “E eu descobri com isso que cordel é muito mais do que apenas escrever versos. Cordel tem regras e uma técnica próprias que exigem um trabalho meticuloso do poeta! São exatamente essas dificuldades que me fizeram um apaixonado pelo cordel”, completa.

Já para Alexandra, o hábito de escrever sempre esteve em sua vida, mas só veio conhecer a literatura de cordel depois de adulta. “Desde menina eu tinha meus diários e até depois de casada eu ainda escrevia meus momentos vividos, fossem tristes ou alegres eu contava tudo no diário, mas nunca mostrava pra ninguém. O cordel não, esse apareceu depois que vim morar em Maceió e Ciro – meu marido – me desafiou a escrever nossa história nesse gênero literário”, explica a cordelista que veio de Santa Catarina.

“PENSEI QUE ERA BRINCADEIRA E AO PERCEBER QUE NÃO ERA, FUI TOMADA DE PAIXÃO PELAS REGRAS FIXAS QUE O CORDEL TEM” – ALEXANDRA LACERDA.

A cultura de Alagoas é muito rica e importantíssima para a sociedade e para a história do lugar, e para ambos, a importância do cordel na cultura alagoana e em geral vai muito além de Alagoas, se fazendo o cordel presente em todo o Brasil.

“Por causa do próprio nome – Literatura de Corde -, esse gênero literário tem sido discriminado, olhado como literatura menor, mas na verdade é o contrário, o Cordel é o único gênero literário genuinamente brasileiro, ele tem precursores aqui e até fora do Brasil, mas no formato poético que vemos, ele nasceu aqui no Brasil e foi criado por Leandro Gomes de Barros”, enfatizam o casal.

“A HONRA DO NASCIMENTO DO CORDEL É NORDESTINA, MAS A GLÓRIA DE SUA EXISTÊNCIA É DE TODOS OS BRASILEIROS” – ALEXANDRA LACERDA

Mas a cultura Alagoana em geral precisa de incentivo de todos os lados, e na opinião dos cordelistas, para crescer, a cultura alagoana precisa de leitores. “Qualquer projeto que incentive a leitura vai beneficiar a cultura em todo o Brasil”, dizem. “É claro que pra isso precisamos de apoio financeiro a novos escritores e de um sistema educacional decente onde se possa levar o cordel para as salas de aula e receber remuneração por isso”.

E de acordo com Alexandra, depois que o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – o reconheceu como patrimônio imaterial brasileiro, a mídia começou a dar mais atenção a essa arte.

Falando em ter mais destaque, a Literatura de Cordel teve representação na Bienal do Livro de 2019, e Ciro diz que a participação agregou muito a Academia. “Esta foi a terceira Bienal em que eu e Alexandra participamos juntos. É sempre bom participar de um evento dessa magnitude. Fomos representando a AALC-Academia Alagoana de Literatura de Cordel e a nossa entidade ganhou muito em termos de visibilidade. Foi uma participação bem mais coletiva que individual”. E Alexandra completa dizendo que houve muito interesse dos jovens por este estilo de literatura e “descobrir que ainda existe quem goste de ler um livro de papel e não somente textos virtuais”

“O CORDEL NUNCA MORREU, MAS DEPOIS QUE O IPHAN RECONHCEU O CORDEL COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO, A MIDIA TEM DADO MAIS ATENÇÃO A ESSA ARTE” – ALEXANDRA

E o que antes era mais difícil de perceber, agora os dois enxergam mais claramente, que é a valorização do Cordel Nordestino. “Durante muito tempo um grupo de estudiosos e amantes do cordel lutaram pra que o cordel fosse reconhecido como patrimônio imaterial brasileiro e hoje isso é uma realidade, sendo aceito como material didático nas escolas, explica a cordelista. 

E para que o público possa entender melhor o que é o Cordel Nordestino, ninguém melhor que os próprios cordelistas para ajudarem nisso. “O autêntico cordel brasileiro é igual em todo território nacional. O cordel alagoano estava quase estagnado, mas com o advento da nossa Academia em setembro de 2017, nossos cordelistas acordaram e muitos outros surgiram. Novos cordéis foram feitos numa escala bem maior do que víamos anteriormente, alguns com edições e impressões de ótima qualidade e textos revisados e feitos segundo as regras do cordel brasileiro. Foi sem dúvida uma renovação, um grande avanço”, finalizam.

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