Texto de Anna Sales
Em 2014, Amanda Bambu comprou sua primeira câmera. Dois anos depois, o que antes era apenas um hobby, acabou se tornando sua grande paixão: a fotografia. Amanda atua como fotógrafa profissional desde 2016 em Maceió, Alagoas, é acadêmica do curso de Psicologia, e retrata em suas fotografias a temática do feminino: seja com nu artístico, seja como parto natural, ou até mesmo em ensaios que exploram vivências da fotógrafa.
Amanda possui fotografias ‘fora do comum’ ao retratar pessoas e suas manifestações. Suas fotos são cheias de ‘mulheres reais’, com corpos reais, dos mais diversos biotipos, e são geralmente acompanhadas de poesias nas legendas, trazendo sentimento ao serem vistas. Seu mais novo projeto, chamado ‘Aquário’, traz fotos com pessoas submersas na água, que segundo a mesma, tem como proposta discutir o desapego nas relações contemporâneas. A fotógrafa também tem fotos no portfólio da Vogue Itália e recentemente, uma de suas fotos do projeto Aquário foi selecionada para o Maré Foto Festival, nas categorias ‘Permitir o afeto’ e ‘Olhe para trás’.
Conversamos com Amanda Bambu sobre suas inspirações, seus projetos e vivências. Confira:
– Como e quando você começou a fotografar?
Amanda – Comecei no ano de 2014. Mas minha relação com a fotografia é tecida desde minha infância. Meu tio tem uma encadernadora de álbuns fotográficos, então desde nova tive acesso a fotografias de grandes fotógrafos alagoanos. Então, 2014, comprei minha primeira câmera fotográfica, apesar de não ter grandes finalidades, exceto hobby. Mas num dado momento eu recebi um convite para fotografar um espetáculo, dentro do meio do teatro eu pude conhecer muitos artistas que influenciaram diretamente na minha escolha de compreender e estudar os retratos mais artísticos.
Cerca de 6 meses depois de ter minha primeira experiência com fotografias de espetáculo, comecei a flertar com os retratos femininos e a explorar cada vez mais o universo de cerca a figura fêmea e suas nuances, desde os tabus, aceitação até a luta contra o machismo. Logo em seguida, fui construindo uma estética de cunho mais subjetivo, algo que pudesse falar um pouco mais sobre mim, sobre minhas memórias e sobre os recortes de experiências que me marcaram.
– Quais suas maiores inspirações na fotografia?
Amanda – Dessa vez eu quero fazer diferente, vou falar de três fotógrafos vivos: Leda Siloto, Clara Araujo e Brenno Barros. Eles são uma fonte inesgotável de inspiração para mim.
– O que você mais gosta de fotografar?
Amanda – Mulheres, o silêncio e o movimento da vida.
– O que mais te encanta na fotografia?
Amanda – Memória. A imortalidade dos movimentos, dos sentidos, das expressões. Essa facilidade de se comunicar em silêncio. Particularmente, é uma licença do mundo, é o momento em que eu consigo “vomitar” as vísceras emocionais. Mas é uma ferramenta de denúncia, introspecção e complementação. Etnograficamente falando, é o meio mais contundente de documentar os movimentos seja de costumes, hábitos, cultura e levar para pessoas que normalmente não poderiam jamais se deslocar para determinado país.
– Como é ser uma mulher que fotografa outras mulheres?
Amanda – É um desafio. Principalmente eu que não me enquadro no padrão: Sou uma mulher de estatura baixa e pele escura, preciso me esforçar mais do que o normal para ser de alguma forma “validada” ou respeitada. A fotografia tem um contexto histórico do protagonismo ser narrado apenas pela figura masculina. Na literatura, pouco se fala das mulheres fotógrafas. Ser mulher na fotografia é um desafio.
– Você acha que as fotos sensuais femininas feitas por mulheres fotógrafas tendem a ser mais sensuais e a dos homens fotógrafos, mais eróticas?
Amanda – Sim, mas quando a mulher é fotografada por outra, ela fala sobre o universo feminino real com mais propriedade, retrata aquilo que de alguma forma se relaciona com o seu universo também (menstruação, mudança de humor, sentir na pele o que é ser mulher numa sociedade patriarcal, homofóbica e machista, ganhar menos por ser mulher…).
O homem (há exceções) tem um olhar mais sexualizado sobre a mulher, então buscam composições que as deixem com o bumbum em evidência, a cintura fina, peitos acentuados, um estereótipo do que é “belo” o padrão de beleza que é consumido por eles. Acabam protagonizando um universo de ele próprio desconhecem e acaba construindo uma narrativa irreal, de uma mulher real, que possui celulite, estrias, peito dentro da gravidade, peles marcadas pelo tempo, manchas. Infelizmente, eles vendem e reforçam uma imagem irreal.
– Percebemos que suas fotografias são cheias de detalhes e sentimentos. Qual é o significado da fotografia na sua vida?
Amanda – A minha fotografia tem muitos elementos semióticos, às vezes consciente, outras vezes não. Mas o que eu sempre busco colocar na minha arte, são os meus sentimentos mais profundos, desde tristeza e alegria.
Eu costumo dizer que a fotografia é o meu sacerdócio, a faço porque ela entende mais de mim do que eu mesma.
– Suas fotos são bem características. Como você chegou a esse resultado nas fotografias?
Amanda – Foi errando muito. Foi dando pausas, “desistindo”, e dentro da minha jornada, eu sempre busquei acreditar no propósito do meu trabalho e na força que ele pode ter, senão hoje, amanhã, se não para muitos, será para alguns, mas sobre tudo sempre presei com que ele (os retratos) façam sentido para mim.
– De onde surgem suas inspirações para suas fotos, especialmente as mais artísticas?
Amanda – Partem muito das minhas experiências com a vida, das despedidas, das memórias da minha infância. Há muitos sentimentos que fervilham dentro de mim, e eu vou dissecandos-os até achar caminhos possíveis para materializá-los em minhas fotografias. Por outro lado, eu me inspiro também em coisas sutis, como num diálogo, num olhar, nos sorrisos, em história. Eu ando quase sempre atenta para as coisas à minha volta.
– Qual ou quais fotos você mais sentiu emoção ao fazer?
Amanda – Foram tantas, mas sempre sinto uma emoção inexplicável quando fotografo parto humanizado.
– Recentemente, você teve sua foto selecionada no Maré Foto Festival. Como foi a experiência? Por que você escolheu essa foto e qual a história por trás dela?
Amanda – Ter sido selecionada no Maré foi muito especial, principalmente pela proposta e dimensão do festival. Escolhi dois retratos do meu projeto Aquário com a performance da dançarina Bárbara Bulhões. A água é um elemento simbólico que fala sobre as emoções, e dentro do projeto Aquário, que são fotografias submersas na água, eu
– Como foi a sensação de ter as fotos no portfólio da Vogue?
Amanda – Este portfólio tem uma curadoria que faz a seleção de forma criteriosa das fotografias que os artistas enviam. Estar entre os artistas selecionados, para mim, é sempre um motivo de celebração e felicidade.
– Como era o movimento da fotografia alagoana, especialmente a feita por mulheres quando você começou a atuar? E como você vê esse movimento hoje?
Amanda – Quando eu comecei a fotografar, não havia nenhum movimento, se havia eu desconhecia, ou era algo tímido. Conheci algumas mulheres da imagem, mas exercendo suas profissões de forma individual. Hoje eu vejo uma rede de apoio, as mulheres estão cada vez mais se unindo, com a finalidade de se fortalecer e buscar ocupar mais espaços seja em museus, salões de artes, espaços alternativos, dentro de um set mesmo. O punho coletivo é um grande exemplo disso, um coletivo de mulheres da imagem alagoana que buscam fortalecer cada vez mais a união das artistas alagoanas criando meios para visibiliza-las.
– Na sua visão, qual o papel que a fotografia tem na nossa sociedade?
Amanda – Os artistas visuais estão marcando uma geração. Registrando e dando lugar aos assuntos como preconceito, política, fazendo críticas e denúncias por meio das imagens, usando a fotografia como fonte e ferramenta de subversão. Mas a fotografia tem papel o mais diversificado possível, ela pode ser documento, mas pode ser poesia, pode ser silêncio, mas pode ser gritaria; pode ser os olhos quietos da Claudia Andujar contemplando