Texto de Anna Sales
“Sou Jorge Calheiros, poeta do Clima Bom, moro no número 49 encostado a mãe do John”.
É assim que a maior parte dos cordéis de Jorge Calheiros tem início. Aos 81 anos, ele nunca foi à escola e aprendeu a ler com uma irmã, a única da família que teve a chance de estudar. Mas isso não foi impedimento para que Jorge escrevesse seus cordéis. Há 56 anos, ele escreve histórias sobre o dia-a-dia, política, fatos engraçados, tudo em formato de Cordel. Segundo ele, o bom do cordel é que não precisa ter um português tão correto para que o público leia e goste.
Aos 16 anos, na cidade sergipana de Neópolis, Jorge Calheiros escreveu seu primeiro cordel, sobre o Rio São Francisco. Logo depois, lançou uma coletânea. O prefeito da cidade deu a ele a patente dos livros. Desde então, segue escrevendo as mais diversas histórias. Mas, só aos 25 anos que ele começou a venda dos cordéis.
O cordelista cita que para começar as vendas, é preciso primeiro que as pessoas conheçam o trabalho. Boa parte disso veio das participações dele nas bienais e feiras de livros, não só aqui em Alagoas, como também em Belo Horizonte, Feira de Santana, Paraty, Salvador, entre outras. “Por melhor que você seja, o público tem que primeiro te conhecer, ver o seu trabalho, para que você consiga calcular o número de livrinhos que vai vender. Cada um tem um gosto, um tipo de livro que gosta de ler, eu vendo cordel para quem gosta de ler cordel, mas sei que outras pessoas não se identificam muito com esse tipo de literatura.”.
Hoje, Jorge tem seus cordéis nas bancas de revistas da orla de Maceió, na biblioteca pública estadual Graciliano Ramos, além de cidades como Pilar, São Miguel dos Campos, Penedo e Palmeira dos Índios.
Cordel na televisão
Jorge Calheiros foi uma das primeiras pessoas a colocarem o cordel na televisão. Ele tinha sido convidado por um amigo para participar de uma conferência e foi assistir o evento. No local, Jorge disse que só tinham pessoas ‘cheias dos estudos e doutorados’. A televisão estava lá para filmar o evento, mas acabou filmando também Jorge Calheiros, que recitou seus versos, encantou o público e fez um pedido: Que os cordelistas aparecessem e as televisões divulgassem. Dessa data em diante, o cordel começou a ter um espaço na TV. Ele diz ser muito importante a união dos poetas em Alagoas. “Eu sou um cara muito tranquilo, quem me conhece sabe. Não tenho problema em dividir um pão com dez pessoas. Os cordelistas se ajudam muito, por melhor que sejam, mas todos precisam uns dos outros.”.
Premiação:
“Ó musa santa divina me cubra com vosso véu, para mim escrever um livro que servirá de troféu, o encontro de Tancredo com São Pedro lá no céu”. Esse foi o começo do cordel “O encontro de Tancredo com São Pedro lá no céu.”, que fala de uma maneira bem humorada sobre a política e a morte de Tancredo Neves. Jorge se orgulha de aos 81 anos, saber decorado o cordel que escreveu, que se falado por inteiro, dura 45 minutos. Ele faz o teste, pega o cordel, pede que a pessoa vá lendo enquanto ele recita e diz: ‘se eu errar uma palavra, pode me parar e dizer que estou errado’. Mas ele não erra uma frase sequer.
Segundo ele, esse cordel rendeu um prêmio, que ele ganhou diretamente de Aécio Neves. Eles se encontraram e Jorge deu seu cordel para Aécio, que achou bonita a homenagem feita ao seu avô.
Apresentação de palco
Nem só da escrita vive Jorge Calheiros. Algumas das bienais que ele participou foi recitando poesia no palco. O show tem de tudo um pouco. Ele fala sobre poesia, livros engraçados, romance, dá explicações sobre como e quando o cordel deve ser feito, o que é métrica. Para ele, isso é muito importante, para que chegue nas escolas um cordel sadio. Ele diz estar muito feliz com o novo movimento de cordel que está surgindo em Alagoas. “Surgir um cordel positivo e sadio aqui de Alagoas, para mim, é muito importante. Esse é o meu show.”.