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Livraria Novo Jardim: um espaço de cultura e afeto (sendo construído)

Texto de Madson Costa

Recordo-me que em 2020, ao publicar o “Manifesto Parte Alta” e o ensaio “Onde Estão Os Negros: um olhar sobre a cena cultural maceioense”, reiterei a necessidade da criação de espaços de cultura e resistência na Parte Alta maceioense.

Devemos criar um movimento de junção, um coletivo de arte conjunta entre os espaços da cidade. Um espaço de debate sobre as artes, a política e as ciências, onde possamos discutir ideias e propor reflexões. Um espaço de efervescência intelectual e artística, um Cabaret Voltaire, onde se possa sair tanto os novos dadas, quanto o novo Die Brücke ou Der Blaue Reiter. (COSTA, Madson. Os Meninos da Parte Alta, 2021).

Apesar das palavras pomposas, queria apenas dizer que era necessário um espaço como esse, para nós, aqueles que vivem do lado de cá. Acredito que era e continua sendo necessária a ampliação dessa perspectiva, que tenta evocar um sentimento de urgência, que, apesar disso, é ofuscado pela situação atual do país.

Mesmo diante de um fluxo contrário à cultura, os escritores Erika e Richard, de lá do Eustáquio Gomes, ousaram criar esse belo projeto, a “Livraria Novo Jardim”, que, além de ser um espaço físico de cultura e literatura, é, sobretudo, um espaço de afeto e amizade. Sim, afeto e amizade, porque é o que sentimos ao estar lá. E segundo Richard, o que nos move é o fio de afeto que temos com as coisas, foi o fio de afeto de Richard e Erika, bem como essa gritante necessidade de um espaço de cultura, já proclamada há tempos, que deu origem a livraria. Agora, uma referência de cultura e resistência no mapa de Maceió.

O afeto e o amor movem. E, nessa linha de pensamento, é evidente como a “Novo Jardim” acolhe calorosamente todos aqueles que decidem frequentá-la, basta apenas ir e ver, do mesmo modo que impulsiona algo que sempre foi necessário; um local onde nossas vozes pudessem ser ouvidas. É lá onde se escuta, onde se afaga e onde se discute. Tentar transpor em palavras a importância dessa iniciativa é quase que indescritível, por isso recorro a Richard novamente, a livraria é um espaço de afeto. Lá se acolhem todos, os artistas, amigos, escritores, intelectuais, estudantes, vagantes, residentes, crianças interessadas em descobrir a leitura, vizinhos, aqueles que querem tomar uma, conversar ou apenas ouvir música, entre tantos outros.

É uma casa de escritores contemporâneos de Maceió, de Alagoas e do Brasil. Faz reverberar aquele texto esquecido de 2020, o “Manifesto Parte Alta”, que pregava a necessidade de um lugar de divulgação de nossas ideias. Nesse lugar de afeto e cultura, que acolhe o próximo como família, se encontram diversas obras de autores alagoanos contemporâneos e ainda vivos, contrariando àquela ideia de que só existem escritores mortos.

“Procurar o mar é exercício noturno”,  “A festa do rouxinol”, “adicionar um livro, (ERIKA)”, são todos exemplos das diversas obras que se encontram lá e estão à disposição de qualquer leitor maceioense.

Apesar disso, não só de literatura se vive o homem, não mesmo, a música ecoa forte lá também, com apresentações de diversos cantores da terra de mares e lagoas. É um movimento que impulsiona todas as artes, contando semanalmente com diversas atrações das mais variadas linguagens artísticas. Dentre essas apresentações, cabe ressaltar um jovem cantor e compositor da Parte Alta, que se deve ficar de olho, João Menezes, que tem talento sem igual e encanta a todos com suas canções. Posso citar, por exemplo, “Até Meu Violão”, “Eu Te Amo” e o seu álbum “Areia e Mar”, feito juntamente com outro compositor da Parte Alta para se observar, Marvin Vieira. É acalanto ao coração e afago no peito.

Mas, enfim, o amor, o carinho e o afeto de Erika e Richard aquecem também o coração de todos que frequentam a “Livraria Novo Jardim”, que é algo para ficar de olho. Em uma ida à livraria, perde-se a noção do tempo, declama-se poesia, canta-se canções, debata-se as ideias, comemora-se a beleza da vida e, acima de tudo, sente-se o prazer de ser e estar.

Assim, vejo que pouco a pouco vem se concretizando um movimento Parte Alta, o qual é um fenômeno novo, incipiente e que gera uma gama espetacular de artistas talentosos, que, mesmo diante do cenário atual, não se calam, não se frustram, se movem, e como já dizia o poeta Gil, “amor é tudo que move”.

Sim, a Parte Alta existe e nela surge uma juventude com sede de revolta e revolução, que não se calará em face à exclusão. Eles terão que olhar para cima. (COSTA, Madson. Os Meninos da Parte Alta, 2021)

Esse movimento, que gradualmente vem sendo notado, é genuinamente da Parte Alta e de artistas de lá.  A Parte Alta existe e digo a todos “ousem sonhar”.

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