Texto de Madson Costa
O poeta é o mais sozinho de todos, não em um sentido de ser solitário, mas porque o poeta é um criador autônomo, que produz assentado sobre sua cadeira ao redor de uma mesa. Dentre todas as outras linguagens artísticas, o fazer poético é o que mais chama atenção por seu caráter extremamente subjetivo, em um sentido de que: o que é um bom poema e o que difere um bom poema dos demais? Cada sujeito produz sentido para peça literária através de suas experiências, através do seu processo de socialização e influências culturais. Ou seja, assim, não é possível verificar se um poema é bom, contudo, isso isenta um poema de ser ruim?
Cada peça literária evoca dentro do leitor um sentimento diferente, um poema de Drummond pode não agradar a todos ou um poema de Brechet pode não agradar a um certo tipo especifico de público, essa subjetividade no toque do poema traz uma questão de como construí-lo e estruturá-lo de forma que evoque no leitor os sentimentos que o fazem assimilar o conteúdo. Ou seja, dentro dessa análise, pode-se dizer que um bom poema seria aquele que evoca sentimentos no leitor ou que um bom poeta é aquele capaz de produzir peças que evoquem sentimento nos leitores?
Essa análise também peca, dado que numa sociedade cuja cultura é extremamente massificada, a obra poética perde-se, ao passo que dá local à produção que visa entreter e mastigar o conteúdo, forma e estrutura, que fazem essa arte tão sublime. Ou seja, também não se pode verificar a qualidade de um poema pelos sentimentos que são evocados nos leitores. Já que, nesse quadro, os poetas pops seriam os melhores pelo alcance, pelo público e pela quantidade de sentimentos despertados em sua base. Todavia esta análise subjuga o desconhecido ou o pouco conhecido à condição de obra ruim, como se desconhecimento fosse sinônimo de pouca qualidade e o grande sinônimo de qualidade.
Essa análise baseada em sentimentos é refutada uma vez que grandes poetas e escritores não foram reconhecidos em seu tempo, tampouco tinham grande público, a exemplo disso, Franz Kafka e Solano Trindade. E sobre Solano, ele foi, certamente, um dos melhores poetas brasileiros, suas obras evocam ancestralidade, luta e historicidade. Mas, outra vez, o que seria um bom poema? Bem, talvez um bom poema seja aquele que detenha: forma, estética, estrutura e conteúdo complexos. Nesse sentido, o poema bom seria todos aqueles que fogem das tendências da arte enquanto mero objeto mercadológico da indústria cultural. Um bom poema, portanto, seria aquele que evoca historicidade, complexidade, identidade e sentimentos. Todos conjuntamente, ou talvez não, não posso afirmar o que é bom para todos.
A solidão do poeta é sempre recorrente, diferente do artista plástico, do dançarino ou do músico, o poeta raramente cria em conjunto, faz shows lotados de fãs, exposições coletivas recheadas de obras ou lives cantando suas músicas, o poeta é, em essência, um ente solitário, que produz pelos dias, tardes e noites num processo exaustivo, o qual consiste em redescobrimentos e invenções com o próprio poema. Consiste na utilização de novas técnicas, pode ser o automatismo poético dos surrealistas, pode ser a experimentação estética, para evocar o além das letras, a forma que elas são espalhadas no espaço do poema. O poeta é bicho solitário, leitor ávido, que devora suas centenas de livros para construir um único poema.
O processo de criação é o mais tortuoso, é chorado, é difícil. As palavras não saem à folha, não querem se escrever, tentam e tentam, mas nada sai, o poema só saí quando quer. Ás vezes, não importa as centenas de livros que foram lidos, as teorias, as técnicas, não sai. Mas isso em si não é ruim, os melhores são os espontâneos, os naturais. A verdade é que o bom poema nasce do susto espontâneo, daquele momento de percebimento do que antes não fora percebido. O poema é susto de repente, é inspiração que aparece do nada.