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O som de um sonho: Alagoanos contam como decidiram seguir a carreira musical

A Revista Alagoana conversou com os músicos Bea Menezes e Robson Cavalcante

Texto de Anna Sales

“Hay un camino que seguir, Hay muchas puertas que se van a abrir, Que mas puedo decir

Si hay mucho por andar, Aquí nos puede pasar, Aqui nos puede pasar”.

Quem foi pré-adolescente entre 2008 e 2010, provavelmente conhece o verso acima: a abertura da novela Isa TKM, um sucesso entre o público infanto-juvenil da época. Na trama, um dos personagens principais, o Alex, tinha uma banda, onde tocava violão/guitarra. E assim, como muitos, a alagoana Beatrice Menezes, a Bea, era fã da novela. Vendo o Alex, ela começou a se interessar e querer aprender a tocar violão. De tanto dizer que queria o instrumento, acabou ganhando um de presente em 2009, no seu aniversário de 12 anos.

Esse não seria apenas um sonho de adolescente, que fica para trás ou se torna hobby com o tempo. Desde que ganhou o violão, Bea sabia que queria seguir a carreira musical. Na infância, ela sempre estava em contato com a música, por influência do pai, que tocava teclado e fazia algumas gravações caseiras. “Eu era fascinada pelo teclado dele, mas não aprendi muito do instrumento quando criança. O primeiro que aprendi de fato foi o violão, que meu pai me deu de presente aos 12 anos.”, conta.

Durante os anos seguintes, a vontade foi aumentando. A escola em que estudou promovia apresentações em teatros, como o Teatro Deodoro e Gustavo Leite. E Bea amava estar nos palcos.  “Participar desses eventos foi de extrema importância pra mim, só me dava mais certeza de que era música que eu deveria seguir! Essa experiência de palco é muito boa, antigamente eu ficava super nervosa, lembro que até levava uma colinha (as cifras), com medo de errar [risos]. Com o tempo, isso se torna mais fácil, mais natural.”, relata.

Mas, até seguir o sonho, foi um longo caminho. Bea se formou no ensino médio em 2014 e tentou fazer duas faculdades depois disso: Publicidade e Propaganda e Nutrição. Nenhuma agradou. ‘Não terminei nenhum dos dois cursos porque não era o que eu queria. Chegava um momento no curso que eu não aguentava mais ir pra aula, era desgastante, só ia pra faculdade pra ‘bater ponto’ (não levar falta).”, cita.

Em 2020, antes da pandemia começar, Bea quis se dedicar ao estudo do teclado/piano, uma paixão que carregava desde pequena. Por incentivo da avó, se inscreveu no processo seletivo da ETA/UFAL, que foi interrompido por 1 ano por causa da pandemia. Durante esse tempo, ela começou a fazer aulas online com o pianista e professor Mayer Goldenberg. Hoje, ela quer seguir com o piano como o principal instrumento.

Seguindo o sonho

Apesar de querer seguir a carreira na música, Bea tinha muitas dúvidas se faria faculdade, pois o ensino de música na maioria das universidades brasileiras, é muito voltado pro erudito, que ela não gostava. Depois que passou a estudar piano, começou a gostar mais e decidiu fazer o curso.

“Meu momento decisivo de cursar música foi quando me arrumaram um emprego num Hospital que demandava muito tempo. Eu fazia plantões de 12h, chegava bem cansada em casa e não conseguia estudar Piano direito. Enquanto trabalhava lá, o edital da ETA/UFAL reabriu, eu passei e pedi desligamento do emprego no Hospital”, conta.

Hoje, além de fazer o curso técnico em Piano na ETA/UFAL, ela também dá aulas de violão, ukulele e teclado. Para Bea, o sentimento é de paz ao finalmente fazer o que gosta. “É muito bom passar para os alunos o que aprendi durante todos esses anos e vê-los tocando, e o melhor de tudo é que também aprendo muito com eles.”, finaliza.

Uma infância musical

“Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão” da Marisa Monte. Esse era o álbum que embalava o sono de Robson Cavalcante, quando ainda era um bebê. E foi com a  diversidade de ritmos ali contidos que ele começou a se interessar por música. Seu primeiro ‘instrumento’ seria a voz. Desde novo, ele tinha a mania de procurar intuitivamente outras linhas melódicas nas canções que escutava com frequência. Logo depois, ingressou no coral infantil da escola que estudava, fazendo com que fosse o início do estudo musical e a primeira experiência dentro desse mundo.

Mas ele não parou só na voz. Com 12 anos, começou a estudar piano. E a primeira música que se recorda de ter tocado é Für Elise, do Beethoven. Mas, o erudito foi só no começo. Depois, o gosto pela música popular foi o que ditou o seu desenvolvimento no piano. E aos 15, aprendeu a tocar violão que estava em sua casa, mas não tinha dono. Ele então pediu ao pai para consertar e trocar as cordas. E com a ajuda da internet e de uma revista, aprendeu o instrumento.

Mesmo com todo viés musical, ele não partiu logo de cara para estudar música. Robson é formado em Direito e atuou na área. Enquanto fazia Direito, ele não deixou a música de lado e participou do I e II Festival Em Cantos (2016 e 2017). “Aquilo foi uma grande alegria. Pude conhecer e trocar ideias com músicos que sempre admirei. Além de iniciar a exposição do meu trabalho. O Direito é um curso muito bonito. Assim como a Advocacia. Se você o fizer bem, consegue ajudar as pessoas. Mas pode se tornar um fardo se você não tiver uma dedicação integral. E a música em mim sempre falou mais alto. Além disso, eu senti a necessidade de entrar em contato com outras áreas de conhecimento, o Direito te deixa muito tecnicista nas análises e pensamentos. As leituras diárias passam a ser quase exclusivamente jurídicas, isso me incomodava.”, conta. 

A música? Falou mais alto.

Em 2019, Robson começou a estudar piano jazz com o mestre alagoano Antônio do Carmo. O aprendizado que teve com ele foi além do musical. Ele foi o primeiro a aconselhar a fazer o bacharelado em música, indicou os melhores lugares que existiam e preparou pro vestibular. Nesse período em que estava insatisfeito com a antiga profissão, ele decidiu mudar de planos, mudar de cidade e o foco da vida também.

“Em 2019 eu pedi desligamento do escritório que trabalhava e montei o meu, junto com 2 amigos. Nessa fase de transição financeira a música se mostrou muito importante. A Bandinha, um projeto para casamentos que eu tinha com a cantora LoreB e o guitarrista Lucas Mello, ambos amigos incríveis também, começou a dar muito certo. A gente fazia muitas apresentações por semana, eu também tinha outros projetos. O retorno financeiro era bom e a agenda era certa. Assim caiu o mito da estabilidade das profissões tradicionais. O caminho estava livre para eu cursar a faculdade que mais combina com o meu perfil e me assumir definitivamente como músico profissional”, relata.

Atualmente, Robson estuda o Jazz e faz parte do quinteto de jazz da cantora Rovena Marinho, em São Paulo.

Compondo o destino

Robson já lançou dois discos e se prepara para lançar o terceiro no final de 2021. “O Lar do Viajante, em 2017, tem uma sonoridade da MPB mais tradicional, na instrumentação e na produção. Foi um compilado das músicas que eu já tinha escrito. A ideia inicial era registrar as minhas canções, mas o primogênito reverberou bem. Em 2019 lancei o Restinga, um álbum com as músicas desenvolvidas num mesmo contexto, decidi usar mais guitarras, synths e uma mixagem mais fechada, o som ficou mais moderno. O disco foi todo feito em conjunto com amigos do cenário alagoano, como Fellipe Pereira, produtor e baterista.”, explica.

Perguntado sobre o álbum que sai no final do ano, o músico responde: “São minhas composições mais recentes e a temática da mudança está muito presente. Eu quero misturar as melodias e ritmos brasileiros que tenho enraizados com algumas texturas e nuances de bandas que tenho acompanhado bastante, como o Moonchild, Rex Orange County, Parcels. Acho que vai dar bom. Pra me ajudar nessa mistura eu convidei o Carlos Bechet e o Lucas Diniz do Wiro Estúdio.”.

E claro, todo o movimento de criar só faz sentido quando se compartilha a arte com os outros.  Para ele, quando alguém fala que gosta de uma música sua, que teve significado em algum momento, nada o deixa mais feliz. E o palco é a troca mais pura, onde dá pra sentir a energia de quem está vendo o show. Hoje, apesar dos lançamentos estarem muito focados no digital, nas plataformas, ele comenta que ‘gosta mesmo é do calor humano’

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