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Violonista alagoano manifesta suas ideias através da música desde os 10 anos e torna-se destaque

Texto de Bertrand Morais

Nícolas Porto Silva é alagoano, mas sua presença física e agora também, mais do que nunca virtual – por conta da pandemia do novo coronavírus – já alcança outras regiões do País. A guia turística dele nessa jornada tem nome. Ela é composta por seis letras e três sílabas: a música. Foi/é a ela quem o jovem Nícolas dedica-se desde muito novo até os dias atuais, e a quem, provavelmente, permanecerá dedicado daí em diante. Planos para a sua fiél companheira de vida não faltam. Talvez, por já tê-la presente ao seu lado desde o nascimento do jovem violonista clássico – em virtude de seu pai também ser músico – o traçar de metas para a música sempre fluiu naturalmente, nutrido por doses de dedicação e muito estudo.

Atualmente, Nícolas Silva é graduando em música pela Universidade Federal de Goiás – UFG – e reside na cidade de Goiânia, localizada na região Centro-Oeste do Brasil. Também atua como professor, produtor, concertista e eterno estudante, o qual nesse último título orgulha-se em dizer que tem como seu tutor o renomado violonista Fabio Zanon, morador da cidade de São Paulo. O jovem de apenas 23 anos, que já obtém um curriculum vitae com premiações nacionais, sonha alto: a especialização de mestre no exterior a curto ou médio prazo. Porém, não perde a simplicidade em ver as boas coisas presentes ao seu redor, porque para ele, cada local que o faça aprender de alguma forma é uma conquista, logo a realização de um sonho. Para o futuro: metas. E se depender do empenho do jovem, todas serão conquistadas muito em breve.

A Revista Alagoana entrevistou Nícolas Porto Silva e você confere abaixo:

– Quem é o Nicolas hoje?

Nicolas – Acho até bacana contextualizar essa resposta. Como comecei a tocar violão e a aparecer no cenário musical muito cedo, às vezes as pessoas se chocam quando me veem aos 23 anos. Lembram da época em que eu aparecia nas TVs e tocava nos teatros locais. Em suma, aos 10 anos de idade eu falava através do instrumento, mas hoje tenho achado importante verbalizar minhas ideias. Ainda assim, em essência, não sou muito diferente do Nícolas de 10 anos. Mesma personalidade, empolgação para estudar, gostos pessoais, time de futebol. Talvez, aos 23, já dê pra ter uma noção mais precisa sobre como as coisas se encaixam por um propósito que não sabemos direito o porquê, mas acho que tenho mais paciência com as mudanças, com as etapas e, principalmente, comigo. Profissionalmente, me vejo cada vez mais aberto às possibilidades que surgem, mais disposto à causa e menos traçador de planos racionais.

– Como você destaca sua trajetória até aqui e como enxerga daqui pra frente?

Nicolas – Penso que acumulei alguma experiência pelo fato de ter começado cedo e ter um pai que também é músico. Felizmente, fiz muita coisa que me dá orgulho e sensação de realização quando olho pra trás, e mesmo as experiências que, naquele momento, pareciam negativas, hoje se mostram um aprendizado importante. Tento, sempre que possível, refletir e agradecer às pessoas que me ajudaram a continuar, direta ou indiretamente. Não foi/é um caminho linear e essa com certeza não será a resposta definitiva, mas olho com serenidade para as etapas que precisei passar, construindo e desconstruindo. Entretanto, ser músico clássico/erudito pode dar uma falsa sensação de que somos “velhos”. A gente vive em prol de um trabalho em que, muitas vezes, nem temos contato com o criador de tal obra. A execução musical vira uma máquina do tempo. Pensando por este lado, sempre tento me lembrar que ainda tenho 23 anos e tem muita água pra rolar. Daqui pra frente quero continuar tendo prazer em levar música para as pessoas, continuar tendo felicidade em preparar todos os aspectos que cobrem uma interpretação musical, que são extensos e, muitas vezes, cansativos. Não sei onde e quando, mas quero estar servindo ao propósito e sentindo que estou aprendendo e evoluindo enquanto profissional e ser humano.

– Quem são suas principais inspirações e por quê?

Nicolas – Meus professores e amigos. Conheci meu atual professor, Fabio Zanon, em 2011, quando tinha 14 anos, num concurso no Rio de Janeiro. Na ocasião, eu fui premiado como Músico Revelação, ele gostou de mim e me convidou para ser seu aluno. As aulas seriam virtuais, já que eu morava em Maceió e ele em São Paulo – apesar de ele ter carreira internacional e viajar constantemente. Por força do destino, só conseguimos começar as aulas, de fato, em 2015. Para além de ser a pessoa que me acompanha durante este período, ele é a referência maior dos violonistas brasileiros. O modelo de carreira dele é uma referência forte até mesmo fora do nicho violonístico. Tendo o privilégio de ser aluno dele, essas questões ficam muito mais acentuadas. Mas, durante os percursos da vida, fiz amigos que me inspiram de diferentes modos e têm sido verdadeiros suportes. O olhar é mais comum, são pessoas passando pelas coisas semelhantes e todas elas com suas próprias visões. Essa mistura de ideias acaba sendo extremamente prolífica. Guardo com muito carinho os amigos que fiz no período em que morei em São Paulo. Eles me ajudaram de diversas formas e pude aprender bastante sobre música e a vida com eles, por exemplo.

– A sua conquista no II Concurso Nacional de Violão AssoVio Vertentes, certamente, é inspiradora para muitos. O que você destaca a exemplo próprio como importância para ter chegado até aí?

Nicolas – Se pudesse dividir em duas categorias, uma mais objetiva e outra mais interna, seriam: Primeiro a disciplina nos estudos; organização das metas a curto, médio e longo prazo; orientação dos professores e busca por excelência. Segundo as abdicações; paciência com as etapas e com o próprio amadurecimento; se cercar de pessoas que te incentivam, e entender que, existem processos que precisam de tempo e que ninguém pode se medir com a régua do outro. Não me coloco na posição de quem chegou a algum lugar, mas tento não negociar essas convicções por considerá-las meu cerne pessoal. Não são regras, mas sinto que preciso me apoiar nestas ideias.

– O que a música representa para você?

Nicolas – É a forma que encontrei de manifestar minhas ideias, de entregar uma mensagem e de ser mais honesto com minha essência.
Eu acredito no poder transformador e na importância da música como educação. Tento levar isso na maneira de tocar sendo o mais fiel possível nas ideias. Não sei se conseguiria encontrar essa mesma forma de expressão em outras áreas.

– Desde sua licenciatura em música pela UFG até as apresentações em outras regiões do País, o que você tem aprendido mais fora e sentido falta aqui em Alagoas, como um alagoano?

Nicolas – Cada vez que conheço uma cidade nova graças a música, penso o quão pequeno sou e quão grande o mundo é. Ao longo de um ano a gente mantém as mesmas músicas no repertório porque é isso o que traz maturidade e conforto técnico com as obras. Isso até pode causar alguma saturação, dependendo da quantidade de vezes que se tenha de tocar, mas quando você apresenta algo que o público nunca ouviu, é como se aquilo também fosse inédito pra mim. Então, sem dúvidas, o que mais tenho aprendido é em relação à diversidade das pessoas, de públicos, e como a mensagem precisa ser entregue com a mesma dedicação, como se eu mesmo estivesse ouvindo aquilo pela primeira vez. Mas também aprendi a ser mais solidário. Ter saído para estudar fora me propiciou um ensino que, infelizmente, Alagoas não oferece. Como nordestino a gente se apega às praias, à culinária, ao clima. Tudo isso faz falta conforme o tempo passa e você está longe de casa, mas, a partir do momento em que saio, penso que tenho uma responsabilidade para com minhas origens e tento fazer com que essas experiências sirvam, num futuro próximo, para outras pessoas que querem seguir o mesmo caminho. São sentimentos que ajudam a amenizar a saudade de casa.

– Qual a mensagem que você deixa para alagoanos e alagoanas que tenham em histórias como a sua, uma fonte de inspiração para não desistir de suas metas artístico-culturais?

Nicolas – São tempos difíceis para quem quer ter a arte como ofício, mas temos a sorte de ter como companhia algo que ninguém pode nos tirar. Amor à causa é muito importante e deve ser conservado sempre – mesmo que em tempos complicados, como o atual – e em caso de sentir esse amor esfriar, é importante termos um olhar romântico e nostálgico para o que nos motivou ter chegado àquele estágio. Nesses últimos dias recebi uma mensagem que dizia mais ou menos assim: “quando a gente trabalha certo as coisas dão um jeito de acontecer”. Obviamente existem mil variáveis acerca disso, mas estou dando um jeito de me apegar. Que tenhamos gosto por aprender, gosto por partilhar, e confiemos que tudo tem um tempo para acontecer, por mais que as coisas pareçam nebulosas por agora.

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