Flávia Gazzanéo: Uma jornada visual pela essência de Alagoas

 

Texto de Esmeralda Donato supervisionado por Anna Sales

 

Quando as ruas estavam vazias no auge da pandemia, e o cotidiano transformado pela quarentena, Flávia Gazzanéo encontrou na lente da câmera uma forma de expressão e conexão com o mundo. A fotografia esteve presente em sua vida quando ela ainda era jovem, sendo um hobby que a acompanhava em diversos momentos. Ao longo dos anos, esse interesse se aprofundou e, na vida adulta, tornou-se uma forma de trabalho. Dedicada à fotografia documental e artística, a fotógrafa destaca momentos que resgatam a essência das tradições e preservam as memórias que atravessam o tempo.

 

O trabalho de Flávia é uma verdadeira celebração da cultura e das tradições, especialmente no que diz respeito às comunidades tradicionais. Através de seu olhar sensível e cuidadoso, ela consegue revelar a essência de cada comunidade, registrando não apenas imagens, mas também as histórias e vivências que compõem o cotidiano desses grupos. Seus registros são mais do que simples fotografias: são documentos visuais que preservam e enaltecem saberes ancestrais, valores culturais e a força de uma identidade coletiva. 

 

A Revista Alagoana conversou com a fotógrafa sobre sua jornada e o impacto da fotografia em sua vida e carreira, confira: 

 

R.A: Como e quando você começou a fotografar?

Flávia: A fotografia sempre fez parte da minha vida. Fui aquela adolescente que adorava fotografar, mas apenas por hobby, registrando viagens e momentos especiais. Com o tempo, me casei, tive filhos, e a fotografia continuou como uma forma de registrar minha família. Tenho vários álbuns com essas memórias. Na pandemia, que foi um divisor de águas para muitos, senti uma vontade enorme de me dedicar à arte de forma mais profissional. Sempre fui apaixonada por arte em geral — música, pintura, literatura — e comecei a sentir que precisava me dedicar a algo relacionado a isso. A fotografia já era uma paixão e, por ser algo que eu já praticava, decidi me profissionalizar. Comecei a estudar mais a fundo em 2020, fiz cursos e segui fotógrafos nas redes sociais. Conheci o Jorge Vieira, que foi fundamental na minha carreira, ampliando minha visão sobre o que poderia fazer com a fotografia. A partir dos cursos e imersões, me descobri na fotografia documental, mas com uma abordagem poética, algo que me atrai muito. Hoje, minhas grandes paixões são a fotografia documental e artística.

 

R.A: O que te chama atenção na fotografia? Há preferências do que fotografar?

Flávia: O que mais me atrai é a conexão que a fotografia cria entre mim, as pessoas e o ambiente que estou registrando. Quando fotografo, me entrego de corpo e alma àquele momento. Eu realmente interajo e me envolvo com o que estou fotografando. Hoje, minha atenção está voltada para atividades ligadas à nossa cultura, aqui em Alagoas. Estou desenvolvendo um projeto fotográfico sobre os pescadores de curral de Maceió, além de registrar manifestações folclóricas como o Bumba Meu Boi e celebrações da religião afro-brasileira, que me encantam. Isso eu devo muito ao Jorge Vieira, que me levou para a Lavagem do Bonfim, evento que me abriu os olhos para a religiosidade. Meu foco está nas expressões genuínas da cultura popular, nas atividades humanas que refletem amor e dedicação. Quero que outras pessoas enxerguem a beleza que vejo nesses momentos.

 

R.A: Qual foi o ensaio que você mais gostou de fazer nesses anos de atuação?

Flávia: É difícil escolher, porque sou apaixonada por todos. Tenho uma série que fiz na Ilha do Ferro, sobre a corrida de canoas, que me encanta. Além da beleza das velas coloridas, o trabalho dos ribeirinhos nas jangadas é algo cheio de paixão. Também gosto muito da série no Quilombo Cajá dos Negros, em Batalha, que fiz com o Jorge. Foi uma imersão que me proporcionou fotos incríveis. Outro trabalho marcante foi no Centro Pesqueiro de Jaraguá, que resultou na exposição Jaraguá: Paisagem-Miragem. Foi a minha primeira exposição maior, com um feedback muito positivo, o que foi muito importante para mim. Atualmente, estou trabalhando há dois anos no projeto sobre os pescadores, e acredito que ele será muito bonito. Em geral, gosto de me dedicar a projetos de longo prazo, onde eu possa realmente mergulhar no universo daquilo que estou fotografando, criando uma intimidade com as pessoas e o ambiente.

 

R.A: O que a fotografia representa na sua vida?

Flávia: A fotografia representa uma completude para a minha alma. Quando estou fotografando, sinto que estou me expressando de verdade, é como se eu fosse eu mesma. Ela me conecta com o mundo e com a vida que acontece ao meu redor, permitindo-me enxergar o belo em pequenas coisas. É algo que vai além do simples registro; é uma forma de conexão profunda.

 

R.A: Quais os principais desafios de ser fotógrafa em Alagoas?

Flávia: Para a mulher fotógrafa, um dos maiores desafios é a segurança. Muitas vezes, quero fotografar em determinados lugares ou horários, mas fico receosa devido ao equipamento e à exposição. O fato de ser mulher também pesa, e isso pode ser um impeditivo. Outro desafio é a falta de apoio mútuo entre as fotógrafas em Alagoas. Acredito que as fotógrafas poderiam ajudar mais, se apoiar mais. Quando uma de nós faz uma exposição ou lançamento de um livro, é importante que todas estejam presentes para prestigiar. Infelizmente, vejo que isso ainda não acontece de forma consistente aqui.

 

R.A: A sua vivência enquanto mulher alagoana influência no seu trabalho fotográfico?

Flávia: Sim, muito. O olhar feminino, especialmente, influencia diretamente o meu trabalho. Sinto a necessidade de dar visibilidade, de forma poética, ao que é feito por outras mulheres. Eu busco mostrar a beleza e a leveza, mesmo em situações que não são necessariamente leves. Acho que isso é o que me diferencia: ao retratar algo, procuro não causar um impacto negativo, mas sim exibir a beleza, a suavidade da situação, mesmo quando o contexto é mais difícil. Meu trabalho tem a missão de dar visibilidade à cultura e às tradições alagoanas de uma maneira positiva e poética.

 

R.A: Quais são os seus sonhos ou projetos futuros dentro da fotografia?

Flávia: Acredito que todo fotógrafo está sempre aprendendo e se reinventando. Estou aberta a novos desafios e mudanças. Atualmente, estou muito focada na fotografia documental e artística, mas tenho vários projetos para este ano. Vou fazer uma imersão com um fotógrafo humanista em São Paulo, o que acredito que trará grandes aprendizados. Quero continuar explorando a fotografia com um olhar poético e artístico, sempre em busca de evoluir e compartilhar o que vejo através da minha lente.

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