O QUE PRETENDE COM A SUA FOTOGRAFIA: DESCRIÇÃO OU EXPRESSÃO?

Texto de Jorge Vieira

”As fotografias em P&B são a magia do pensamento teórico, conceitual, e é precisamente nisso que reside seu fascínio. Revelam a beleza do pensamento conceitual abstrato.”

Vilém Flusser

Não por acaso começo esse texto intitulando-o de forma provocativa, o que se potencializa com a citação de trecho encontrado no livro “Filosofia da caixa preta”, do respeitável pensador Vilém Flusser (filósofo checo-brasileiro, 1920-1991).

Quando pergunto se se pretende descrição ou expressão com a fotografia que se faz, e já apresento o pensamento de Flusser, de cara sinalizo que vamos transitar um pouco pelo universo da fotografia P&B.

Concordo que a fotografia em preto e branco é fascinante, e certamente é por isso que ela constitui a maior parte das fotos que produzo. Quem já teve a oportunidade de trocar ideias comigo sobre esse tema, deve lembrar de que considero a cor elemento de composição, no que quando ela está presente nas minhas fotografias têm alguma justificativa conceitual.

E a propósito de conceito, é nisto que reside a magia da fotografia P&B, segundo Flusser, afirmação que contraria algumas crenças, recorrentemente referidas em rodas de conversa de fotógrafos/as. Eis algumas:

“O P&B é alternativa para salvar foto ruim”

“O P&B é uma opção cromática”

“O P&B é coisa das antigas”

“O P&B deixa a foto artística”

“O P&B nasce no photoshop”

Talvez você já tenha ouvido algo assim, ou mesmo dito.

Pois bem, P&B não é nada disso, é linguagem de construção da imagem, que nasce não só antes do photoshop, mas antes mesmo do clique. A fotografia em preto e branco, na dimensão de linguagem imagética, tem origem no olhar conceitual de quem a faz, que lê a cena em tons de cinza, considerando as propriedades do claro/escuro, do diálogo contrastante da luz com a sombra.

Justamente por isso, no dizer de Flusser, o P&B revela “a beleza do pensamento conceitual abstrato”, porque atende a expressão do/a artista, que vai além da descrição do cenário tal qual a ele/ela se apresenta.

Quem pensa a fotografia em preto e branco transita no universo do indescritível, recorre à poética para realizar suas imagens, e leva a quem vê suas fotos a provocação do intangível, visto que o que entrega transcende o real.

Parece até, talvez, que estou defendendo a fotografia P&B qualitativamente em detrimento da foto colorida. Não é isso. A intenção aqui é provocar a reflexão, a princípio, e quem sabe o estudo em segundo momento, do preto e branco na sua real contextualização na Fotografia, ou seja, como linguagem e não como opção cromática.

O tema é instigante, e apresenta renovadas possibilidades de discussão, para o que estou sempre à disposição, especialmente como “praticante do P&B”.

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