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Coluna de Jorge Vieira

Há pesquisas que apontam que a câmera fotográfica corresponde a 78% das razões que definem o modelo de smartfone no momento de sua compra. Usuários dão conta de que raramente utilizam seus aparelhos como telefone móvel, e que a produção de fotos é a forma de uso largamente majoritária. Redes sociais que têm a veiculação de imagens como foco são, segundo pesquisadores, uma das principais justificativas para esse cenário.

Esse movimento de fazer, tratar e compartilhar conteúdos imagéticos, de tão peculiar e, pelo que parece definitivo, até definiu uma nova modalidade de prática fotográfica, a mobgrafia.

A Fotografia, com F maiúsculo pelo respeito que merece, já revestida de toda a sua importância histórica, reconhecida sua influência em momentos cruciais da dinâmica dos povos e em suas relações, considerada a oitava arte e, paradoxalmente, tendo dado origem à sétima, o Cinema, está indiscutivelmente agregada ao dia a dia das pessoas, na contemporaneidade.

Fotografar, então, parece estar se constituindo consequência natural do viver. E, diferente do que comumente se pensa, o sentido da foto pode não estar à frente da câmera. Ansel Adams (fotógrafo americano, 1902-1984) afirma que “não fazemos uma foto apenas com uma câmera; ao ato de fotografar trazemos todos os livros que lemos, os filmes que vimos, as músicas que ouvimos, as pessoas que amamos”, o que reforça a estreita relação da Fotografia com quem a faz.

Mas, dada a importância da vida humana, e da singularidade do indivíduo, a câmera fotográfica, inclusive as dos smartfones, claro, haveria de ser instrumento com significação que transcendesse a “simples” exposição de selfies em redes sociais. Essa leitura encontra ressonância no pensamento de Gerard Castello Lopes (fotógrafo francês, 1925-2011), ao dizer que “a fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registro da realidade e um autorretrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira”.

Nessa linha de abordagem, na perspectiva de arte da transformação, da pessoa e do mundo que a cerca, penso que a Fotografia pode exercer função de mecanismo de mudanças importantes, tanto em ambientes internos como em externos, no que tange a relação da humanidade com sua história.

Finalizo essa breve reflexão com uma frase da icônica Dorothea Lange (fotógrafa americana, 1895-1965), que julgo sintetizar a resposta à pergunta que intitula este artigo:

“A câmera é um instrumento que ensina a gente a ver sem câmera.”

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