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Jovem autora alagoana Natasha Tinet vê a poesia como “uma tentativa de silêncio”

Texto de Gabriely Castelo

Natasha Tinet, nasceu em 1988 na cidade de Palmeira dos Índios, Alagoas, porém vive desde 2014 em Curitiba. É graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas e Veludo Violento é seu livro de estreia.

Em 2018, o livro foi selecionado como um dos vencedores do Edital Para Publicação de Obras Literárias, criado pelo Governo de Alagoas. É uma autora que se encaixa na lista de ótimas leituras e também na lista de livros escritos por mulheres alagoanas e nova geração de poetas brasileiras.

Leia abaixo um poema:

Oração a Nossa Senhora do Foco

 nossa senhora do foco,

 não dê minha alma como perdida.

 rogai por minha mente inquieta, dai-me sentido na vida.

 mate meu talento, já não me importo, quero ser senso comum

 ser indiferente a tudo que seja de caráter profundo

 quero resolver angústias existenciais com meu cartão de crédito

 assistir a noticiários e achar tudo banal.

 nossa senhora do foco, fazei de mim um pires:

 de porcelana barata, branco, raso e sem dor.

– Como escritora publicada, você observa no alagoano um interesse em questão a literatura?

Não posso falar no interesse do “alagoano” no geral, porque isso envolve um recorte de classe social e outras questões como acessibilidade. Também estou fora há seis anos, tenho uma pequena noção da cena literária através do que acompanho nas redes sociais, nos perfis dos meus colegas. Então só posso falar partindo da minha experiência. Em Maceió, sempre estive próxima a pessoas que se interessam por literatura, que são leitores vorazes ou/e que também escrevem.  O escritor Cid Brasil, que escreveu o divertido A importância de se chamar Kurt Russel ,era meu companheiro de leitura e escrita em Maceió. Ele me emprestava seus livros mesmo antes de ler e sempre tem boas indicações. Além dele eram pessoas ligadas às universidades, alunos, professores.

– Como você observaria a literatura em Alagoas?

 O que eu sentia falta era de uma cultura literária mais acessível no cotidiano, algo que não dependesse somente do meio acadêmico ou da celebração das bienais, mas no incentivo a criação de bibliotecas e casas de leitura públicas com acervo atualizado. Acho que a editora Imprensa Oficial Gracilianos Ramos é um estímulo importante na literatura contemporânea alagoana, revelando novos nomes, relançando autores fora de catálogo, vendendo livros com projeto gráfico de qualidade por preços mais acessíveis. Temos autores alagoanos incríveis, que merecem ganhar mundo, uma galera muito boa e tenho orgulho de fazer parte.

– Qual seu tema preferido para abordar em sua obra? E por quê?

Depende do momento. No Veludo Violento tem o humor, tem o fantástico que é algo que eu também gosto de explorar na prosa. Morte também é um tema presente. Esse ano, em que voltei a escrever poesia mais intensamente, percebi que o silêncio é um tema que se repete. Me encontrei no zen-budismo e estou aprendendo o silêncio, não só no sentido da prática meditativa, mas de um silêncio interior. Sempre tive a mente acelerada, muito criativa, mas também propensa a pensamentos autodestrutivos que eu não conseguia controlar e me faziam mal. E é muito difícil pra mim escrever assim. Com a mente tranquila nada atrapalha.

– O que a sua obra de estreia “Veludo Violento” representa para você?

Uma grande descoberta e um renascimento. Eu só escrevia crônica e contos, mesmo sendo leitora de poesia. Comecei a escrever poesia porque queria vender geleias e as poesias

iriam acompanhá-las. Cabou que as geleias viraram presente de natal e as poesias ficaram.  A recepção do livro têm sido boa, teve o 2º lugar no Prêmio da Biblioteca Nacional 2019. Cada mensagem que recebo é um quentinho no coração e faz com que meu trabalho valha a pena. O Veludo me deu chão, porque me sentia perdidaça sobre o que fazer da vida, não aceitava a literatura como possibilidade. Mas tudo, até o que deu muito errado, me levou pra isso.

– Quais são os artistas ou obras que mais te inspiram?

Vixi, tanta gente, tanta coisa. De maneira mais direta, me inspiro nos  meus companheiros da Membrana,  grupa de escrita da qual faço parte com outros artistas, escritores e poetas de Curitiba. Foram eles que incentivaram a publicação das minhas poesias. Sou muito afetada pela escrita da Julia Raiz, minha amiga e grande poeta com quem edito a Totem & Pagu firrrma de poesia. Estamos sempre nos lendo e compartilhando ideias.

No meu altarzinho também estão  Angélica Freitas, Ana Martins Marques, Ana Cristina Cesar, Elena Ferrante,  Lucia Berlim, Silvina Ocampo, Julio Cortázar, Carson MacCullers, Katherine Mansfield e Clarice Lispector. Phillip Glass é a minha trilha sonora preferida pra poesia e tem sido impossível não escrever depois de assistir os filmes do Bergman. Li recentemente o Amada da Toni Morrisson e me encontro absurdada pela literatura dela.

– Qual seria a característica principal com que você procura trabalhar nos escritos?

Tenho duas preocupações: sonoridade e equilíbrio. Me preocupo muito com a fluidez das palavras, que elas andem sem tropeços e tento produzir uma escrita que se equilibre, que não seja a tragédia pela tragédia, que tenha um pouco de humor, de insólito também.

– O que significa a poesia para você?

Uma tentativa de silêncio.

– Você tem algum projeto em andamento?

Tenho um livro de contos, uma plaquete e um novo livro de poesia inscritos em editais, estou à espera dos resultados. No momento sigo com a edição e as ilustrações da Totem & Pagu e com os projetos da Membrana.

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