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“Sejamos críticos da nossa existência, pois só temos um único bilhete de ida”

Texto de Lícia Souto e Danielle Luciani

– Para começar, gostaríamos de saber por que você se mudou para Maceió (AL)?

Levy – Vim com minha família de Brasília. Meu pai foi contratado para trabalhar no rebocador no porto de Maceió, em 1987, e aqui fiz minha história artística.

– Você acredita que essa arte que nasce a partir de intervenções urbanas leva as pessoas a refletirem sobre sua própria conduta com relação a produção e descarte de lixo?

Levy – A Intervenção Urbana é um ato artístico, político, sem partido, uma rebeldia, um recado artístico e amplo, para que todos saibam. Cabe ao artista ser esse farol da delicadeza humana, sintetizar a cultura local e mundial. Ver, ouvir e expor quem somos e onde estamos.

– Sua forma de expressão artística é muito ampla, vimos que você vai desde o desenho até a intervenção urbana com esculturas. Como ocorre para você esse trânsito artístico?

Levy – Ocorre na oportunidade em fazê-lo. No momento oportuno, na possibilidade técnica e financeira. Quando não é mais possível estar passivo, de observador a indagador, é neste momento de provocação que a própria Intervenção se faz acontecer. O artista passa a ser a ferramenta de ação artística e delicada. Pois o belo, o abstrato e a arte é o que nos motiva.

– Você ganhou, em 2009, um prêmio no concurso Ecoarte, cujos temas propostos eram: Poluição Sonora, Poluição Visual, Arborização e Limpeza de Praias e Lagoas; com a finalidade de promover a conscientização ambiental por meio da arte. Muitas pessoas, por falta de conhecimento sobre essas manifestações culturais ou apenas por opinião pessoal, consideram grafite e outras expressões urbanas um certo tipo de “poluição visual”, você já se deparou com críticas nesse sentido?

Levy – O prêmio foi porque modéstia à parte, ajo devagar, mas profundamente. Mais do que nunca devemos nos preocupar com o meio ambiente, sejamos críticos da nossa existência, pois só temos um único bilhete de ida. Então, hoje já se entende que ‘Grafitagem’ é a pintura em lugares não autorizados, quando se tem a autorização chama-se ‘Arte Urbana’. A grafitagem nasceu lá nos EUA, nos anos 60/70, de forma a provocar a própria sociedade em se ver e ser critica a sua própria forma de viver; o racismo, o preconceito, a forma da sociedade de consumo.

Ainda hoje o Grafite é uma ferramenta de recado, ele passa várias mensagens, como código, como reflexão, como rebeldia, e como arte. Visto que as galerias de arte passaram a comercializar obras de vários artistas pelo mundo. A arte existe para sabermos que ela existe. Pode ser clássica, como um quadro de Picasso e pode ser um mural de Levy Paz. Pode ser uma grafitagem do misterioso Banksy, como também pode ser uma pintura rupestre de milhares de anos. Isso é expressão e registro de momentos de nós mesmos.

– O que você acha que poderia melhorar no cenário cultural artístico em Alagoas?

Levy – Alagoas tem um casting artístico que não deve nada a lugar nenhum do planeta. Mas aqui, por vários motivos, inclusive cultural, a ‘elite alagoana’ por motivos culturais, tende a não valorizar, a não enxergar os artistas atuantes e em evidencia. E assim se forma um ciclo diferente de qualquer outro lugar do planeta, pois qualquer sociedade econômica tende a valorizar os seus, uma questão econômica prática. O pernambucano vende e consome muito bem sua própria cultura, assim como Salvador e Rio de Janeiro.

Devemos parar de gastar milhares de dólares no rato americano, e sim enaltecer a arte, o folclore e os folguedos alagoanos. Isso sim é saber onde estamos e do onde viemos. Não quero ir ao Japão comer tapioca, assim como o japonês não quer comer sushi aqui. Então temos que nos vender, valorizar os nossos, assim como nossos vizinhos sabem e vendem muito bem a sua cultura local, seus artistas e seus costumes!

– E durante essa quarentena, como você está conduzindo suas produções?

Levy Essa semana foquei em alguns editais que estão abertos aos artistas visuais, também estou planejando as próximas exposições 2021, 2022, em Maceió e outros estados. Nesses dias o artista aproveita o tempo extra para produzir e concluir outros trabalhos que estavam na fila de espera. Conclui uns e rascunha outros. Essas são minhas esculturas, e com essa crise aproveitei o tempo e estou fazendo um editorial fotográfico. Posteriormente irei publicar em sites e rede social.  As fotografias externas são esculturas nomeadas “Tentáculos” que fizeram parte da exposição Gênesis em vermelho absoluto, e fotos internas da mesma exposição.

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